Balanço de vida
Como é encantador ver alguém se divertir num balanço. A beleza está na cadência deste brinquedo que leva seu passageiro todo esticado para o alto, para em seguida obrigar as pernas a se dobrarem impulsionando o brinquedo no sentido oposto. O vento acarinha o cabelo, o rosto, e um efeito de liberdade, como se fosse um vôo, é experimentado. Talvez seja esta sensação que faça ser tão prazeroso ver alguém embalado na pequena cadeira segura por cordas ou correntes. É como se o observador entendesse exatamente a leveza que o observado vivencia naquele compasso de delícia, e saboreasse o mesmo resultado através de suas próprias impressões guardadas num canto da memória. Observador e observado criam uma cumplicidade traçada pela mesma impressão que o balanço proporciona a ambos. E foi um balanço a ponte para que os dois personagens desta história se conhecessem.
Ele já passara dos setenta anos. Ela ainda não completara uma década de vida. Encontraram-se num parque. Para ela, apenas outro passeio qualquer com a mãe. Para ele um lugar sagrado; neste mesmo local, conhecera há anos a jovem mais linda que já vira. Foi entre os balanços que a pedira em casamento. Naqueles gramados, os filhos deste amor correram, deram cambalhotas, riram e choraram com os joelhos esfolados. O jardim lhe cedera várias vezes as flores que enfeitaram o cabelo daquela mulher tão amada. Voltara hoje àquele lugar, com a cabeça já branca, com o coração sozinho. Sentou-se num dos bancos restaurados e ficou um longo tempo acompanhado de suas lembranças.
A menina a sua frente sorria de olhos fechados entre o vai e vem do balanço em que brincava. De vestido rosa claro, sem sapatos, o cabelo esvoaçando em acalento pueril, a alegria dela chamou a atenção do velho. Ela parecia um anjo, assim como a mulher que vivera ao seu lado por tantos anos. Poderia ele ainda ter minutos que fossem de tamanha felicidade como via naquela garota?
Impulsionado por força da qual não conseguia entender a origem, levantou-se timidamente e aproximou-se daquele quadro real com cores de contentamento. Seria ele capaz de fazer parte de um cenário tão ingênuo? Poderia ele deixar a tristeza imensa que fazia o peito apertar e sentir algum prazer?
A menina abriu os olhos e ao notar o provável companheiro de passatempo, esticou a mão e fez o convite:
– Quer brincar um pouco?
Prontamente parou o balanço e desceu para deixá-lo ao novo amigo.
– Não precisa ficar com medo. É só segurar forte que você não cai.
Ele, então, munido de coragem, dessa que nos visita nas situações mais difíceis que o cotidiano impõe, sentou-se no lugar da garotinha e, aos poucos, foi ganhando o céu. Seu corpo pesado foi se tornando leve como há muito não se arriscava ficar. Sua mente descansou da melancolia e seu coração encontrou paz.
A mãe da menina, inconformada em ver um adulto roubar o brinquedo da filha, aproximou-se perguntando em tom ríspido:
– Por quanto tempo o senhor vai ficar aí?
Antes de responder, olhou para a menina que lhe sorria com meiguice.
– Por toda a eternidade!