Um olhar atento à parturição

O desejo é que todas tenham a oportunidade de ressignificar o que é parir.

Parturição é o nome dado ao processo do parto, ao parir. Por esta razão, quando uma mulher está em trabalho de parto chamamos de parturiente, e não mais de gestante.

O processo de parturição é muito romantizado pelos amantes da fisiologia e da biomecânica do parto – me incluo nisso -, pois é belo presenciar uma mulher trazendo ao mundo um bebê que ela mesma “produziu” cada coisinha que nele contém.  Sempre brincamos nas consultas, quando as gestantes relatam estarem cansadas: “Hoje você produziu um coração, meu amor, tá justificado”.

Foto: Divulgação

Acontece que tal romantismo por muitos não é visto com bons olhos. E como profissional de assistência obstétrica, sei que o romantismo tem seus limites. Afinal, parir dói, sangra, leva tempo, pede paciência e resiliência. Exige um plano A, B e C, e talvez refazê-los durante o caminho. O ideal é muito diferente do real. Como tudo na vida, o processo de parturição é um evento que foge do nosso controle. Portanto, estudar, traçar objetivos, conversar exaustivamente com os profissionais de assistência ao parto, preparar-se física e emocionalmente, é altamente recomendado (dentro de cada realidade); mas em determinado momento é preciso confiar e entregar-se ao processo.

Acompanhar partos nos faz ver o quanto o processo do parir é instintivo, mas cada parturiente lida e enxerga da sua maneira, de acordo com o seu grau de informação a respeito do processo e da forma que seu emocional permite, baseado em fatores muitas vezes “além dalí”.

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O contexto, no qual aquela mulher está inserida, importa. Existem diferenças na vivência do parir com uma equipe de assistência própria e em um plantão; bem informada, mal informada e não informada, é inegável. Infelizmente, a assistência como gostaríamos ainda é para poucas, o acesso é um tanto quanto limitado. A assistência obstétrica tem dado passos e os profissionais envolvidos têm se empenhado cada vez mais. Isso também leva tempo.    

Limitar o sucesso de um parto por seu tipo – normal, natural, cesariana -, é um tanto quanto cruel. O que dita o sucesso de um parto é o respeito às escolhas, as correções e indicações necessárias e, como desfecho, mãe e bebê saudáveis.   

O desejo de quem vive com um olhar atento à parturição, é que um dia todas tenham a oportunidade de ressignificar o que é parir, porque tiveram uma assistência de qualidade. Será que chegaremos lá?

Beatriz Delapieri

Fisio Pélvica, Doula, geminiana, faladeira e privilegiada por acompanhar mulheres se transformando diariamente. Fisioterapeuta Especializada em Saúde da Mulher com ênfase em Obstetrícia pela Federal de São Carlos há pouco mais de 3 anos. Vivendo o propósito de cuidar, desbravar e libertar a saúde pélvica de mulheres em todas as fases de suas vidas com muito amor e educação em saúde.

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