Formados na USP depois dos 60 anos de idade

Humberto, Maria, Vera, Izaías e Lourdes têm entre 61 e 68 anos, se formam na USP, e quando acharam que ficariam em casa jogando conversa fora, cuidando dos netos ou ainda em seus afazeres domésticos, apareceu na vida de cada um deles o Centro de Referência do Idoso

Muitos estudarão anos para prestar vestibular para algum curso da USP (Universidade de São Paulo), entretanto poucos conseguirão ser aprovados, outros tentarão diversas vezes e nunca conseguirão obter o êxito. Mas tem um grupo de Cravinhos que está com o sorriso de “orelha a orelha”, isso porque eles ganharam uma grande oportunidade em suas vidas, no ano passado, ingressar no curso de Sociologia e Filosofia do Direito.

Estudantes comemoram a conquista do certificado

E o mais emocionante disso tudo que eles têm entre 61 e 68 anos, e quando acharam que ficariam em casa jogando conversa fora, cuidando dos netos ou ainda em seus afazeres domésticos, apareceu na vida de cada um deles o Centro de Referência do Idoso de Cravinhos, o qual lhes proporcionou ingressarem aos bancos universitários.

“Essa foi uma parceria com a USP de Ribeirão Preto, que vem de encontro aos direitos dos idosos, assim cumprindo o papel de socialização e inclusão”, diz o secretário da Assistência Social de Cravinhos, Márcio Luís de Lima Barroso.

E depois de muito estudarem e frequentarem as aulas na faculdade, nessa semana receberam o Certificado de Conclusão do Curso, que é vinculado ao Programa da Universidade da Melhor Idade da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

“Parabéns aos nossos valorosos alunos que se mantiveram aplicados e comprometidos durante todo o curso, obtendo nota final acima da média”, diz Márcio Barroso.

O principal objetivo do projeto é trazer a troca de experiência entre o jovem e o idoso com a formação e aprimoramento constante para a terceira idade por meio da aquisição de novos conhecimentos. Os idosos participam das aulas dos cursos de graduação apenas duas vezes na semana, mas alguns tem a oportunidade de estudar pela primeira vez.

“O que eu acho mais importante nesse projeto é a convivência do jovem com esse idoso que às vezes é um trabalhador manual, pedreiro ou doméstica, pessoas com quem ele têm convivido, mas que têm servido a ele. De repente, eles estão juntos procurando conhecimento, fazendo trabalhos, seminários e trocando ideias, tudo isso é muito valioso”, comenta a idealizadora do projeto, Ecléa Bosi, professora emérita do Instituto de Psicologia e que criou o programa há 23 anos.

Apesar dos idosos sempre buscarem estar atualizados diante dos acontecimentos ao seu redor, o estigma perante o envelhecimento situa-se como um grande empecilho para a sociabilização das pessoas mais velhas.

Para participar do projeto se faz necessário ter mais de 60 anos de idade, ter disposição para novos aprendizados e claro não deixar de confiar nunca em si mesmo.

Idosos aprovaram o curso da USP

“Nunca tive a oportunidade de estudar e isso aconteceu agora em minha vida. Só tenho que agradecer a todos e principalmente ao CRI, que está nos proporcionando tudo isso”, comenta Maria Francisca Florêncio de Assis, 66 anos.

“Os professores são muito atenciosos e queremos mostrar ao jovens que eles não podem deixar de acreditar em seus sonhos e vontades. Queremos ser o exemplo para eles, porque cada um aqui poderia estar em sua casa, deitado e não fazendo nada, entretanto decidimos que queríamos mais para a nossa vida e estamos indo em busca”, revela Izaías de Oliveira Santos, 66 anos.

“Foi muito bom estudar lá na USP, porque sou católica e sempre quis saber sobre alguns nomes que aparecem na Bíblia, e dentro da Filosofia os professores explicaram e também nos ensinaram como as leis que estão ai hoje surgiram até antes de Cristo”, comenta Vera Lúcia Rossi Bubio, 61 anos.

“Sempre aproveitamos o máximo do curso. No primeiro momento quando falei para minha família foi um impacto, mas depois foram aceitando e depois começaram a me ajudar. O meu maior sonho era estudar e quando era mais jovem não tive a oportunidade, mas agora agarrei com toda a minha força”, afirma Humberto Florentino Faramilio, 68 anos.

“Eu já usava o WhatsApp e o Facebook, mas meus amigos foram para as escolas de informática, porque estávamos estudando com jovens e eles querem nos mandar os materiais por redes sociais ou e-mail, por isso não podíamos ficar para trás”, conta Lourdes Maria Parede Côrrea.

Kennedy Oliveira

É formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelas Faculdades COC (atualmente Estácio). É pós-graduado em Comunicação: linguagens midiáticas, pelo Centro Universitário Barão de Mauá.

Deixe uma resposta