Mariana Balbão: do interior paulista até a Copa do Mundo Feminina

Dentro de tudo que Mariana Massaro Balbão passou em sua vida, principalmente na adolescência, surgiu a ideia da Women Soccer Academy (WSA), uma escola de futebol feminino que hoje conta com mais de 100 atletas.

Nascida em Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, Mariana Massaro Balbão começou a jogar futebol com cinco anos de idade, por grande influência de seu irmão mais velho, que ia treinar em escolinhas. Sua primeira escolinha se chamava Futebol Arte, onde era a única menina. Seu pai levava ambos para treinar e ficava a tarde inteira assistindo. Ela diz que desde o primeiro momento em que entrou em campo, sabia que aquilo faria parte de sua vida para sempre.

Com 13 anos de idade, Mariana fez parte de um time feminino que disputou um campeonato sub-16 nos Estados Unidos. Quando voltou ao Brasil, fez parte de categorias de base de clubes, inclusive chegou a passar em peneiras do Santos, mas sem sucesso. Porém, viu que a realidade no exterior era completamente diferente e lutou para voltar e seguir seu sonho fora do país. Mariana foi em busca de empresas de intercâmbio para conseguir viajar, e uma delas deu oportunidade de um showcase, em que ela ficou 10 dias nos Estados Unidos fazendo testes. Ela ganhou uma bolsa de estudos sendo atleta nos Estados Unidos, conciliando o esporte com a escola, pois seus pais sempre a incentivaram ter uma formação, tanto que possui graduação em Administração.

A jogadora Tamires com Mariana Balbão em treino da seleção brasileira feminina
Foto: Arquivo Pessoal

Durante toda sua adolescência, ela destaca o preconceito que sofreu por ser uma menina dentro de um meio majoritariamente masculino. Com 12 ou 13 anos, deu uma pausa em sua carreira porque não aguentava mais ouvir críticas e desrespeito. Entretanto, sentia que seu sonho não poderia ser deixado de lado, e buscou conhecimento para ter argumentos contra o preconceito, até porque ele existe até hoje, sendo, conforme suas palavras, uma “luta diária”.

Dentro de todos os fatores que Mariana passou em sua vida, principalmente na adolescência, surgiu a ideia da Women Soccer Academy (WSA), uma escola de futebol feminino na cidade de Ribeirão Preto (SP). Mariana cita que durante sua trajetória, viu a carência que sua cidade tinha em um projeto de futebol feminino. Ela menciona que entrou em projetos que não eram especializados para as meninas e que não tinham um cuidado específico para elas. Pensando nisso tudo, ela fundou sua própria escola de futebol feminino, tendo o que é preciso para as meninas se tornarem tanto grandes atletas como grandes pessoas, usando o futebol como ferramenta social. Mariana finaliza que a WSA é um programa de formação e desenvolvimento de atletas exclusivo para meninas e mulheres, sendo um sonho delas, tanto quanto o seu, usando o slogan “O momento agora é delas”.

Escola de futebol feminino WSA
Foto: Arquivo Pessoal

Sobre o incentivo do futebol feminino no interior paulista, Mariana afirma ser, assim como em todo o Brasil, algo defeituoso. Porém, ela vê um crescimento no país, já que os campeonatos são bem disputados e as marcas investem, tendo uma visibilidade muito maior do que era antes. Por outro lado, no interior ainda falta o olhar de alguns clubes sobre o futebol feminino, não apenas dando a camisa, mas também a estrutura.

“Muitos acham que o futebol feminino é um gasto, mas na verdade é um investimento, faltando um cuidado no interior paulista por parte de prefeituras e escolas. O esporte transforma vidas, por isso ele deve ser usado como ferramenta na sociedade”, afirma Mariana Balbão.

Ainda segundo Balbão, o futebol feminino já mostrou que pode dar retorno, presenciando o recorde de público sul-americano na final do Campeonato Brasileiro na Neo Química Arena e também o recorde de público na Copa do Mundo Feminina na Austrália e Nova Zelândia.

Mariana assegura ser uma realização pessoal poder ajudar várias meninas a realizar o sonho de serem jogadoras, a seguirem seu objetivo, formando atletas e pessoas.

“Estamos mudando a vida delas e de suas famílias, gostaria que tivessem feito isso por mim no passado, sendo o sonho delas o meu sonho”, enfatiza Mariana.

A lateral-esquerda do Corinthians e da seleção brasileira, Tamires; com a cantora Gabi Fernandes; e a proprietária da WSA, Mariana Balbão
Foto: Arquivo Pessoal

Cada vez mais, ela vem se aprofundando e estudando sobre o mundo esportivo. Sendo assim, Mariana vê a WSA como uma referência dentro do futebol feminino, até sendo reconhecida em locais públicos, visto que graças ao projeto, ela foi até a Austrália para assistir à Copa do Mundo Feminina, que foi realizada neste ano de 2023 dos dias 20 de julho a 20 de agosto. E agora ela busca ir também às Olimpíadas.

Ainda dentro desse segmento, Mariana Balbão descreve que ir até a Copa do Mundo foi algo surreal.

“Senti um mix de emoções ao ver de perto a seleção feminina. Foi a realização de um sonho, porque, como eu tive o sonho de ser uma jogadora profissional, eu também tinha o sonho de viver uma Copa do Mundo. Foi uma das viagens mais importantes e marcantes da minha vida”, complementa a ribeirão-pretana.

Partida entre as equipes da WSA e a Ferroviária de Araraquara
Foto: Arquivo Pessoal

Por fim, Mariana garante que sempre acreditou no potencial e desenvolvimento do futebol feminino. Afirma que o que faltava era o espaço, algo ainda faltante, mas quando as mulheres têm oportunidade de mostrar sua força, elas não decepcionam, e que é questão de visibilidade e marcas, destacando o crescimento que elas deram no futebol feminino nos últimos anos.

“Quero cada vez mais fazer parte desse crescimento e ajudar essa modalidade a chegar aonde ela deve estar, porque tem muito a ser caminhado”, conclui Mariana Balbão.

Sobre a escolinha WSA, Mariana sempre acreditou no potencial e nos propósitos. Hoje ela tem mais de 100 atletas e esse número tende a crescer cada vez mais.

Kaique Souza

Estudante de Jornalismo na UNESP Bauru

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