Brechós vencem o preconceito e se tornam os ‘queridinhos’ de muitos brasileiros
Uma alternativa inteligente e sustentável para renovar o guarda-roupa em tempos de crise
O que você faz com a roupa que não quer mais usar? Muitas vezes a vida útil de suas peças é definida pelas tendências da moda e não pelo seu desgaste? Diante desse cenário, o que se sabe é que hoje existem práticas sustentáveis que podem ser adotadas para que esse ciclo se torne cada vez mais sustentável. Já ouviu falar ou já foi a um brechó?
Para quem não sabe, a compra de roupas e produtos usados é uma prática bastante antiga. Por meados dos anos de 1900, no subúrbio da capital francesa Saint Quen, já existiam feiras de trocas, porém devido às péssimas condições de higiene, esses locais foram apelidados de “MarchéAuxPuces”, traduzindo “mercado das pulgas”.
No Brasil esses eventos começaram em 1899, com Belchior, um mascate que revendia no Rio de Janeiro e por causa de seu nome complicado ficou conhecido como Brechó, daí a origem do termo.
Até hoje muitas pessoas pensam que brechós são locais com peças ruins, velhas no sentido de conservação e de estilo, já que algumas coisas são bem antigas e já usadas. Mas essa resistência vem mudando de forma tão positiva que os brechós são tem se tornado os “queridinhos” da maioria dos brasileiros, devido a oferecer variedades de peças e acessórios (muitas vezes de marcas renomadas) com um preço acessível e de excelente qualidade, além é claro, de contribuir ecologicamente, pois economiza-se a energia de produção e também diminui a questão dos descartes irregulares.
“Sempre quis trabalhar com moda, mas de um jeito diferente, vender produtos usados porém de qualidade e em perfeito estado, o que foi a combinação perfeita para realizar meu sonho”, diz a empresária Joceli Dutra, 45 anos, que abriu seu brechó em Pirassununga, interior de São Paulo, no ano de 2013.
Jô, assim como é carinhosamente conhecida, acredita que tudo pode ser reaproveitado, principalmente roupas e sapatos, pois uma roupa usada gera custo zero em questão do algodão, água e energia.
“Podemos customizar diversas peças transformando-as em outras, como fazer uma calça jeans virar bolsa, shorts e até camisas”, completa a empresária.
O brechó fica montado em sua própria casa, e possui aproximadamente 3000 peças adquiridas de pessoas que estão dispostas ao desapego, ou então de grandes bazares de capitais que fazem venda exclusiva para brechós.
No “Brechó da Jô” pode-se encontrar peças femininas, masculinas, adulto, infantil e infanto-juvenil, além de calçados, bolsas, acessórios e até eletrodomésticos, como secadores de cabelos e pranchas alisadoras. Uma peça num brechó pode chegar a custar 20% ou 30% do valor de uma nova na loja.
“Minha mãe sempre leva para casa roupas para eu usar vindas do brechó, e eu espero ansiosamente e feliz porque sei que ela gastou pouco e trouxe roupas coloridas que eu amo”, conta a estudante Camila Pavão, 8 anos, que é apaixonada por brechós.
As redes sociais têm um papel importante na questão de divulgação, pois o negócio começa em uma vitrine online que é mostrada diariamente para as pessoas e dessa forma, vai conquistando clientes.
“Descobri o brechó por meio de uma amiga que me indicou e fui pesquisar a página na internet, afinal toda mulher gosta de arrasar nos looks e ainda gastar pouco”, conta, sorridente, Denise Mendes, que sempre compra peças e acessórios nos vários brechós espalhados na cidade em que mora.
Na contramão da crise, aumenta a procura pelo mercado dos brechós
De acordo com dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o segmento de brechós cresceu 210% nos últimos cinco anos e, hoje, já são mais de 11 mil estabelecimentos especializados e espalhados pelo Brasil.
Sônia Maria de Queiroz é uma consumidora fiel e apaixonada por brechó e ela diz que em época de crise, comprar roupas e sapatos em ótimo estado de conservação, num preço que cabe no bolso, além de um excelente atendimento, é gratificante.
“Brechós são minha paixão antiga, fico muito feliz e realizada em poder comprar nesses ambientes”, revela Sônia Queiroz.
Joceli Dutra, conta que seu plano para o futuro está em abrir um grande brechó no comércio da cidade com divisões de setores (moda feminina, masculina, infantil e infanto-juvenil) e mostrar para as pessoas que o preconceito em relação a esse ramo de atuação ficou lá atrás.
“Quero poder mostrar para as pessoas que brechó é bom, limpo e cheiroso, cheio de coisas boas e que o preconceito é coisa do passado”, conclui a empresária.
O segredo para encontrar roupas e acessórios bacanas e renovar o armário da família toda, está em garimpar, ter boa disposição, procurar as marcas e assim se surpreender com as variedades.