Oremos

Vivemos estressados. Por tudo e por nada. O trabalho nos consome, a família, os compromissos sociais, a pia cheia de louça, a roupa pra passar, mil livros para ler, o jornal grande demais, o celular chamando, as mensagens pra responder, os vídeos de fé esperança e caridade, o call center vendendo terrenos, apartamentos de 500 metros quadrados na avenida João Fiuzza, filantrópicas pedindo donativos, os sem teto nos semáforos, a fila do banco e o resultado das loterias que premiam sempre alguém do outro lado do país, a ração do cachorro acabando, todo mundo pedindo para curtir páginas nas redes sociais, a faxineira que não vem, a fatura do condomínio… chega.

É muito estresse, mas foi a primeira vez que vi alguém estressado porque já havia roubado dois bancos naquela semana e teria de roubar mais um. Foi um americano – lá também acontece cada uma! – Irritado com tanto trabalho, ele pediu socorro para quem poderia realmente ajudá-lo a não consumar o crime: a polícia. Não teve dúvidas, jogou a toalha, quer dizer, as armas e o maçarico telefonou para 911 e disse: Não quero roubar mais um banco, já assaltei dois esta semana, e pediu para ser internado.

Então, fiquei pensando:  ele teve para quem pedir socorro, ainda que arriscando passar uns bons anos na cadeia – e isso deve acontecer -, mas quem nos livra de nosso estresse de cada dia? Já votamos cinco vezes para presidência de República, temos outro que é híbrido, nada mudou, ou melhor, mudou sim, para mais estresse, insegurança e espanto.

Fomos engolidos. As avenidas estão vazias de manifestantes, o calor é sufocante, o tempo é mais curto que nunca, e a ressonância Shulmam garante que o dia não tem mais 24 horas e sim, 16. Quer dizer, o Planeta também estressou. E agora?

A Terra está com taquicardia, o Natal está chegando de novo com seus panetones, neve de mentira, papai Noel fazendo oh, oh, oh! – o Temer não teme ninguém, e não $$ai de lá nem com reza brava. Oremos! É só o que consigo pensar. Oremos!  O que me alegra mesmo são as três velhas cartunistas, fazer palavras cruzadas, um bom saco de pipoca, bife à milanesa, suco de maracujá e o televisor desligado.

Matilde Leone

Maria Matilde Leone é jornalista e escritora, formada pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, SP, em 1985. Trabalhou em diversos veículos de imprensa como redatora e editora, tais como jornais, revistas e de televisão como EPTV, afiliada da Rede Globo. Foi docente de jornalismo na UNICOC em Ribeirão Preto e na Unifran, na cidade de Franca. É autora de Sombras da Repressão, o Outono de Maurina Borges, publicado pela Editora Vozes; A Caixinha do Nada, editora Coruja, Theatro Pedro II – 80 anos, editora Vide. Editora e revisora de várias publicações.

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