Música, sociedade e política

Caros amigos leitores, espero que estejam desfrutando a vida em plenitude e com muita boa música presente nos seus melhores momentos.

Hoje gostaria de refletir um pouco sobre a música na sociedade e como ela pode revelar muito a respeito de como andam as coisas no ambiente social e político do Brasil e do mundo.

Como você acha que vai o planeta e o nosso Brasil? Estamos indo bem ou mal?

Existem relatos de que na China antiga, quando havia povos em conflito e a guerra era iminente, uma das estratégias dos líderes do governo e do poder militar, era enviar espiões para as terras do povo adversário para conhecerem e analisarem como andava a música executada e apreciada por aquele povo.

Se a música do lugar fosse considerada de boa qualidade, harmoniosa, executada com virtuosismo e boa técnica e ainda, se fosse valorizada pelo povo daquele lugar, isso era indício de que aquela sociedade estava forte, unida e organizada. Se houvesse intenção de uma investida bélica ou invasão, isso deveria ser adiado ou feito com muito mais cautela, pois seria muito arriscado atacar um povo com tais características.

O contrário, se o povo do lugar onde havia a intenção de ataque e interesse de dominação estivesse com a música pobre, mal executada, desvalorizada; isso significava que aquele Estado estava enfraquecido, desunido e desorganizado. Esse povo poderia ser atacado com segurança sem maiores riscos para quem atacasse.

Ou seja, para esses governantes da China antiga a avaliação da música de um povo era determinante para saber como estava a sociedade como um todo. Interessante, não?

Então, voltando para a pergunta inicial, como anda o Brasil e o mundo? Estamos em crise?

Seguindo a mesma lógica dos imperadores da China antiga, temos que fazer outra pergunta: como anda a nossa música? Qual o valor dela na sociedade?

Obviamente pode-se pensar que julgar a qualidade da música é uma coisa subjetiva e depende do gosto pessoal, certo? Certo e errado.

O gosto pessoal é um fator importantíssimo sim, para julgar se uma música é boa ou ruim. Pode ser considerada boa pra um e ruim para outro. Posso gostar ou não, isso é um fato. Porém, pode-se analisar a música por um prisma menos subjetivo levando em conta aspectos técnicos como harmonia, melodia, ritmo, timbres, forma, letra (no caso das canções), a informação nova ou redundância que uma música carrega etc.

Falando especificamente do Brasil, a impressão que tenho é que nossa música está se tornando cada vez mais pobre, mais fraca. E pela lógica dos antigos imperadores chineses, nosso povo, nosso Estado e nossa sociedade, como um todo, também está mais fraco, desunido e desorganizado.

A música piorou porque a sociedade piorou ou a sociedade piorou porque a música piorou? Essa é uma boa pregunta. O fato é que vivemos sim uma grande crise de valores que se reflete na nossa política, na educação, na música, nas artes e na sociedade como um todo.

Para termos algumas referências separei algumas canções em ordem cronológica, canções essas, que foram emblemáticas em diferentes momentos da recente história política do Brasil e de como essas canções eram de alguma maneira a voz do povo se manifestando.

Noel Rosa – Onde está a Honestidade? (1930)

A menina presidência – Nássara e Cristóvão de Alencar (Gravação de Sílvio Caldas e Orquestra Odeon) –  (1936)

Se eu fosse Getúlio – Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti (1954) / Gravação de Nelson Gonçalves

https://www.youtube.com/watch?v=eOWijm1hERk

Sina de Caboclo (1964) – João do Vale e J. B. de Aquino

Despejo na favela (1969) – Adoniran Barbosa

Construção (1971) – Chico Buarque

Que País É Este? (1987) – Renato Russo

Brasil (1988) – Cazuza e George Israel

E hoje, em 2017?  O que temos na nossa música popular que podemos considerar como a voz do povo se manifestando? Tentei encontrar algo, mas confesso que não encontrei.

Segue a esperança de dias melhores.

Até a próxima!

Luciano Duarte

Luciano Duarte é músico, graduado em Música Popular pela Unicamp. Morou e atuou na Europa por três anos. É professor de música e atualmente trabalha como guitarrista de orquestras em navios de cruzeiros tocando com músicos do mundo todo, tendo passado por quase 30 países até o momento.

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