A morte e as crianças

O nascer e o morrer faz parte de vida, do processo de vivência e do crescimento do ser humano. Para muitos falar sobre e aceitar a morte é tarefa quase impossível, independente de sempre nos cercar e acontecer diariamente. Bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos morrem. Não tem dia e nem hora, raramente estamos preparados ou esperamos que isso aconteça.

Se para adultos é difícil compreender e aceitar o morrer, como explicar isso para as crianças? Sim, as crianças precisam saber também, afinal, é algo que é real e não tem volta, não é mesmo?!

Pais, irmãos, avós, familiares, amigos da família, bichinhos de estimação, qualquer pessoa querida pode vir a óbito estando ou não doente, e a criança irá sentir falta se a pessoa for querida e fizer parte do círculo social.

Até mais ou menos os 7 anos a criança tem dificuldades em compreender que algo é “para sempre”, é como se “morre-se só um pouquinho” e depois pudesse voltar, como em uma viajem. Os próprios desenhos animados muitas vezes trazem esta visão para as crianças, que apesar de cair de um penhasco, ser explodido ou ser engolido, entre tantos outros acidentes, é possível voltar e continuar o que se estava fazendo.

Os primeiros contatos com a morte, para a criança, são importantes na relação dela com este processo natural da vida, bem como suas formas de enfrentamento. Os familiares adultos sempre serão modelos e porto seguros para os pequenos.

O processo de luto é para a elaboração das perdas vividas e aprender a viver e conviver sem a pessoa que antes estava ali sempre e, assim como os adultos, as crianças também passam por este processo e precisam de cuidado e acolhimento. Às vezes não é o familiar mais próxima da criança que deve dar a notícia, mas o mais estável, aberto e compreensível naquele momento de dor.

A criança percebe se algo não está igual no ambiente, então esconder não é o caminho, e muito menos mentir. Também não é indicado falar com metáforas “Foi morar no céu”, “Virou uma estrelinha”, “Está em sono eterno” e coisas do tipo. Quem muda pode voltar, se ela não pode virar uma “sereia” porque ele virou uma estrela? A Branca de Neve e a Bela Adormecida acordaram de um sono profundo… Porque ele não?

Parecem ser coisas bobas, e muitas vezes falamos isso com as melhores intenções, porém sendo claros, abertos e explicarmos a chance da compreensão e enfrentamento positivo são melhores. Crianças também podem participar de enterros e velórios se assim ela quiser. Ela é parte integrante da família e não há nada que a impeça de estar presente neste momento. Cabe aos cuidadores pensarem no melhor para os pequenos e no impacto, tanto positivo quanto negativo, de estar neste ambiente.

Questionamentos de onde está a pessoa, se podem encontrar, se ela não vai voltar ou porque não disse tchau podem machucar qualquer um, mas eles só estão tentando compreender o que aconteceu e falar sobre isso é primordial. Não há nada errado em chorar e mostrar os sentimentos. Errado é mentir, esconder e fingir, afinal mesmo que falemos que “Está tudo bem” e “Não aconteceu nada” nosso corpo fala ao contrário, e percebendo isto os pequenos podem começar a esconder seus sentimentos também.

A criança é um ser humano aprendendo a lidar com tudo da vida, ele sente e precisa aprender a nomear estes sentimentos, ela percebe, ela ri e chora e precisa compreender tudo o que passa e acontece a sua volta.

Conversar, explicar, dividir experiências e estar aberto a qualquer momento demonstração de tristeza não as vão tirar a dores delas, mas podem levar conforto, confiança e alívio quando elas mais precisam. Ela sente a dor da perda também, e não são brincadeiras, jogos ou coisas novas que as vão fazer esquecer.

Eles também podem apresentar distúrbios de alimentação, sono e alterações de comportamento, mas não porque são revoltados ou porque querem atenção, eles apenas estão tentando aprender a entender e lidar com a morte.

Muitas vezes neste primeiro contato, as crianças perguntam se vão morrer também e, nesta hora, é errado mentir falando que não, mas não há uma forma certa ou um jeito de falar a verdade. É necessário sensibilidade, acolhimento e cuidado para explicar para eles que isto é algo natural da vida.

Comunicação simples, sem rodeios, escuta atenta, um abraço, um choro compartilhado, expressão de sentimentos e sensações, trabalho da culpa, do medo e dos desejos ambivalentes são muito importantes para entender sobre a morte e conseguir conviver com ela.

Yasmin Paciulo Capato

Yasmin Paciulo Capato é Psicóloga (CRP: 06 / 136448) clínica e atende as especialidade de Psicoterapia, Orientação Vocacional e Psicodiagnóstico na Clínica Vitalli.

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