Ele tem um amigo imaginário

Já na infância os seres humanos começam a constituir sua identidade e personalidade, assimilando o que passa no mundo e em como expressar seus sentimentos, medos e preocupações, utilizando-se de fantasias e histórias que criam contextos e dão sentido ao que está sendo vivenciado.

É através da brincadeira e das fantasias que a criança aprende a dar significado ao mundo em que vive e a experimentar as coisas do dia a dia, bem como demostrar seus sentimentos e entendê-los. As brincadeiras simbólicas contribuem para a compreensão do que é viver, sentir e entender, muitas vezes construindo uma própria história a partir do algum outro, de si, ou de um amigo, imaginário.

Aos amigos imaginários são atribuídos funções positivas e negativas, e carregados de simbolismos aos quais auxiliam a criança a compreender seus desejos e experiências que não podem ser expressas no “mundo real’. A criança utiliza-se do brincar para reelaborar as tensões emocionais e psíquicas, reorganizando-se.

Geralmente os amigos imaginários surgem aos 4 anos, momento em que a criança já consegue separar o eu do outro, e podem durar até os 7, dependendo do nível de amadurecimento de cada um, o que encontra no caminho e as formas com que consegue passar pelas vivências.

Em meninas é mais comum o aparecimento destes amigos, nos meninos geralmente se dão através de super-heróis, seja como companheiros ou como os próprios heróis. Crianças primogênitas e filhos únicos também auxiliam no surgimento, mas nem todas tem amigos imaginários, somos únicos e singulares, utilizando de outros tipos de representações para passar pelos conflitos e vivências que aparecem em nossas vidas.

Os companheiros do faz de conta, além de fornecerem companhia e diversão quando não há ninguém disponível naquele momento, dão o suporte para barganhas (Se ele não precisa tomar banho, porque eu preciso?!), são responsáveis ou aguentam momentos de stress e raiva (A culpa é sua! Você fez isso! Você viu o que fizeram comigo?!) e servem também para expressão de sentimentos em que há relutância de dizer diretamente (Ele está com medo do trovão! Ele não gosta de ir nesse brinquedo!).

Em situações de mudanças drásticas ou repentinas, divórcio dos pais, morte de um ente querido, mudança de cidade, distância de alguém querido, ou tudo que possa causar um stress muito grande, pode fazer com que a criança tenha um companheiros de faz de conta.

Um amigo imaginário faz com que a criança tenha com quem desabafar, contar seus problemas e medos, discutir o porquê algo aconteceu, como solucionar aquela questão e uma companhia para todos os momentos, bons ou ruins, de brincadeira ou de tarefas.

Descobrir sobre um “amigo que não existe” pode ser motivo de extremo alarde para os pais. Podem pensar que seus filhos não conseguem ter relações sociais com outras crianças “de carne e osso”, um possível problema psicológico, ou até mesmo um transtorno de saúde mental, mas não é bem assim.

A maioria das crianças sabem que aquele super-herói ou boneca são frutos da imaginação, e que não servem como substituto das relações com pessoas reais. Eles são companheiros em momentos sós, contribuem nos momentos difíceis ou de stress além de auxiliar no desenvolvimento psicossocial.

Conversando com os pequenos sobre o amigo de faz de conta os pais podem descobrir os interesses, preocupações, desejos e receios dos filhos, bem como o que ele já consegue distinguir e ainda tem dificuldades, conhecendo-os um pouco mais e sabendo o que ainda é necessário auxiliá-los.

Caso a interação infantil seja muito grande com o amigo imaginário, restringindo-se apenas em interação com o mesmo, é importante conversar com a criança explicando que gostaria de entender o que anda acontecendo, estimular contato com outros crianças e respeitar o tempo com seu imaginário, mas colocando a necessidade e o quanto é legal ter outros amigos também.

Yasmin Paciulo Capato

Yasmin Paciulo Capato é Psicóloga (CRP: 06 / 136448) clínica e atende as especialidade de Psicoterapia, Orientação Vocacional e Psicodiagnóstico na Clínica Vitalli.

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