Sexualidade e Sexo

Nos últimos meses houve grandes repercussões na mídia e redes sociais sobre a questões envolvendo a exposição sexual. A performance “La Bête” do Museu de Arte Moderna de São Paulo e até a produção de bonecas com genitálias, e não whatever, no Canadá, causaram grande reboliço e inúmeras discussões sobre poder ter ou não tais exposições quanto a sexualidade.

Em partes (sim, somente em partes) são compreensíveis as manifestações contrarias a tais acontecimentos levando em consideração as vivências e formas de pensamentos de cada um, porém era para estar claro a diferença entre a sexualidade e sexo, mas infelizmente não é assim que as coisas estão.

Sexualidade não remete-se ao sexo. Sexo não é sexualidade. Os dois não são iguais. Porque esses assuntos assustam tanta gente, e acham que é melhor criticar do que refletir sobre?!

Sexualidade, conceito amplo que está associado à satisfação de necessidades humanas básicas, como desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, ternura e o amor que começa logo no nascimento do bebê. Quando nasce, o bebê precisa do contato corporal com sua mãe, de seu cheiro, de sua voz. É necessário colo, aconchego, carinho, toque, e não apenas os cuidados básicos, e ao fazer estas coisas você já está estimulando a sexualidade do seu filho.

A sexualidade está relacionada às sensações, ao prazer, aos sentimentos que envolvem os relacionamentos, ao autoconhecimento sexual.

A OMS em 2007 diz que “a sexualidade é um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrange o sexo, as identidades e os papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos, nas fantasias, nos desejos, na opinião, nas atitudes, nos valores, nos comportamentos, nas práticas, nos papéis e nos relacionamentos.”

A doutora e psicóloga Denise Tinoco complementa ainda que “também está relacionado à sexualidade a ambivalência, isto é, o desejo de ter, possuir, e a raiva, o ciúme, pelo fato da pessoa amada não ser do jeito que se deseja e de não ser objeto nosso. O sentimento de posse, a relação de amor e ódio temperam a sexualidade, colorindo o relacionamento. O sofrimento, a dor, o prazer, a alegria e o amor são emoções que fazem parte da sexualidade, dando tom à vida” ou seja, a sexualidade não é sexo, ela existe sem o ato sexual.

Sexo pode ser uma palavra que designa o gênero masculino ou feminino, distinção biológica e de genitálias, também pode referir-se a qualquer atividade que resulte em sensação de prazer no corpo.

Pode significar ainda, o ato sexual em si, com ou sem o uso das genitais, significando propriamente as relações sexuais.

Pelo fato do nosso sexo, de nosso ato sexual ser permeado pela sexualidade ele se distingue de todos os outros sistemas que o utilizam apenas como algo biológico e para reprodução. É através do contato, do toque e das interações que buscamos prazer, e o sexo pode ser uma destas buscas.

Sobre a performance “La Bête”, em nota o Museu de Arte Moderna de São Paulo diz que “a sala estava devidamente sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística, seguindo o procedimento regularmente adotado pela instituição de informar os visitantes quanto a temas sensíveis. O trabalho apresentado na ocasião não tem conteúdo erótico e trata-se de uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas”, explicam também que foi escolha da mãe entrar na sala, e que a criança ao tocar os pés do artista estava sob supervisão da mãe.

La Bête - MAM
Performance “La Bête”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP)

Levando em consideração, como verdade a nota do museu, a mãe da criança considerou que não havia mal, e que também não estaria incentivando ao sexo ou qualquer outra coisa, sua filha ver a releitura da obra e ainda entrar em contato com a mesma. O artista permaneceu imóvel como uma obra, uma estátua, e a partir da visualização da exposição, sua compreensão dentro de sua faixa etária e a estrutura familiar, a menina elaborou o que conseguiu daquele momento.

Neste ponto caímos nas famílias que andam nuas dentro de suas casas, e não há qualquer relação com sexo, são apenas corpos nus, sem roupas, que andam entre si no ambiente que são deles, com respeito mútuo. Neste mesmo contexto, temos as praias de nudismo, as quais muitas famílias com adultos, adolescentes e crianças são frequentadores e não há relação nenhuma ao sexo ou o ato sexual. Então porque isto é tão diferente que os pais não possam escolher o que seus filhos podem ver ou não, ou ter contato ou não, desde que tenham disponibilidade para debater sobre qualquer dúvida e questionamento que possam surgir.

praia nudismo

 

O que tem de errado em um boneco, ou boneca, apresentarem genitália feminina ou masculina ao invés do whatever? Quando se tem um bebê na família, e a criança terá contato direto com este, algumas vezes ela poderá ver a genitália deste bebê, e verá que existem diferenças ou semelhança com seu próprio corpo. Bonecos com genitálias reais, e não “assexuados” não irão fazer mal a nenhuma criança, eles auxiliarão no autoconhecimento e podem até auxiliar em situações de dores e desconfortos na genitais, bem como ajudar a contar sobre um abuso sexual.

Quanto mais familiar for para a criança a diferenciação biológica, quanto mais natural for a questão sobre seu sexo (sexo de genitália, e não o ato sexual), mais as crianças se apropriarão de seu corpo e conseguirão conversar sobre suas dúvidas e medos. Mas é claro, que sempre caberá aos pais escolher o que é melhor para seus filhos e em quais momentos será permissivo.

O que não pode acontecer em pleno século XXI é confundir liberdade sexual com ato sexual, e confundir sexualidade com sexo, expressão sexual com estupro ou pedofilia. Infelizmente tal atos (estupro, pedofilia, e o próprio assédio sexual) estão presentes, mas estes não tem nada a ver com a sexualidade que deveria ser algo natural, e não sexualizado (ato sexual) e banalizado como ainda é.

Yasmin Paciulo Capato

Yasmin Paciulo Capato é Psicóloga (CRP: 06 / 136448) clínica e atende as especialidade de Psicoterapia, Orientação Vocacional e Psicodiagnóstico na Clínica Vitalli.

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