Memórias de 7 de setembro
Ontem foi 7 de setembro, dia da Independência.
No final da década de 80, quando eu estreava nos primeiros anos do Ensino Fundamental I, antes Ciclo Básico ou algo assim, muitas das crianças que iam à escola já sabiam cantar o Hino Nacional. Talvez porque até os diários adquiridos em papelaria traziam a letra atrás. Era um incentivo a mais. Algo que já não acontece hoje, pois as empresas apostam em cadernos com capas duras, cada vez mais sofisticados, com os personagens da moda, tudo para atrair a criançada que ordena que os pais comprem este ou aquele.
Foi também naquela época, que aprendi os Hinos da Independência, da Bandeira e o da Proclamação da República. Minha mãe sentava comigo e com meus irmãos e estudávamos as letras quando estas nos eram apresentadas na escola. Em datas cívicas, sabíamos as canções de cor. Meus pais também nos incentivavam a participar dos desfiles comemorativos. Mesmo sem tanta instrução, estimulavam em nós a prática do civismo e do patriotismo.
O esperar pelo 7 de setembro fazia a data bem mais significativa. Durante toda a semana, as atividades na escola eram voltadas para o tema. Os cadernos, de todas as matérias, ganhavam listras transversais em verde e amarelo nas folhas que seriam utilizadas, os ensaios para o desfile cívico aumentavam a ansiedade para o dia do evento e o Hino da Independência, a esta altura, era a música cantada até no chuveiro. O compromisso era bem sério e não nos sentíamos obrigados a participar. Participávamos porque gostávamos de fato. Ah, e as cores da bandeira não estavam tão manchadas…
Entretanto, algo de muito marcante, mas muito mesmo, em minha vida, durante a Semana da Pátria, era a maneira como minha mãe, costureira e sempre zelosa, me arrumava para ir à escola. Lembro-me da bermuda azul marinho e das blusas branquinhas nas quais ela afixava, do lado do coração, um lacinho de cetim, confeccionado nas cores verde e amarelo. Recordo-me de quanto os professores elogiavam aquele cuidado e todo aquele amor com que ela tentava transmitir o valor de servirmos à Pátria.
E valeu a pena! Apesar de atualmente o cenário brasileiro não sirva de base para celebrações, sinto orgulho de ter tido a oportunidade de, por meio da escola e da minha família, aprender hinos brasileiros, armas nacionais, importantes órgãos dos governos Federal e Estadual, bem como outros assuntos relacionados ao civismo.
Essa lembrança me visitou hoje porque ontem os professores foram convocados a participar da comemoração cívica na escola. Ao estar diante das três bandeiras, do Estado, do Brasil e do Município, percebi que alunos presentes mal sabiam cantar o hino nacional. Surpresa maior foi ouvir a pergunta:
– Professora, que música é aquela que tocou por último?
– É o Hino da Independência! – respondi.
– Nossa! Nunca ouvi aquilo na vida.
Como nosso país mudou, não é mesmo? Como os valores mudaram e como as crianças e os adolescentes mudaram… E olha que não sou tão idosa assim.
Não acredito que somente escola tenha que transmitir estes conhecimentos. É preciso que famílias tentem também mudar essa desvalorização cívica e motive suas crianças e adolescentes a ter o mínimo de paixão pelo seu país.
Não! Não tive a tive a intenção de tecer comentário hipócrita aqui. A intenção foi relatar uma memória boa. Afinal, a única alegria comemorada ontem foi o feriado mesmo, o ficar em casa deitada no sofá. Não celebrei a independência que, infelizmente, não existe por uma série de questões de ordem política, econômica e social, dentre tantas outras. Muito pelo contrário, comentei e repito que, desde aquele “independência ou morte”, nossa nação está morrendo aos poucos…