Sala de visita

Ao longo de nossa caminhada conhecemos muita gente. Muita mesmo!

Algumas pessoas entram, passam e vão embora da nossa vida sem ao menos percebermos. Nem por isso deixam de ser dignas de consideração. Elas sempre têm uma missão ao passarem por nós. Seja atender a uma necessidade que tínhamos, preencher um desejo que jurávamos ser impossível de se realizar ou simplesmente dar aquele empurrão de que precisávamos para conseguirmos seguir adiante pelo percurso da nossa existência.

Outras são aquelas que passam tão rápido, tão rápido que sentimos como se fossem só um singelo sorriso a acenar na janela de um trem. O sorriso que, naquele instante, se configura no único fortificante a nos devolver a vida.

Mas há ainda aquelas que nos visitam de forma muito inesperada, porém essencialmente agradável. Pessoas estas que quebram a sequência do nosso cotidiano e tomam conta da sala de estar da nossa vida. Ambiente propício para incansáveis prosas não interrompidas sequer por aquele desatencioso que esbarra na mesinha de centro que apoia o bule do café. O café mais saboroso acompanhado dos mais frescos biscoitos que completam o sabor daquele bate-papo gostoso. Bate-papo que sempre pede mais. Conversa que transforma. Olhar que entende. Olhar que empresta um jeito novo de olhar. Silêncio que fala. Diálogo que revela.

É aí na humilde sala que se revelam amores, paixões, medos. Onde se partilham dores, carências, desejos. Risos ecoam pelos corredores da casa e lágrimas regam o pires da xícara do café.

Naquele ambiente as diferenças são reconhecidas e respeitadas, os corações se aproximam e o permanecer ali não carece de obrigação. Empresta-se, sem preocupações, o precioso tempo. A bondade da alma floresce como o mais belo ipê e a confiança se enrijece como a maior rocha.

Esforços são imensuráveis quando a tarefa é encher balões coloridos para enfeitar a sala que vai fazer a recepção. Tudo para alegrar o outro e ver, por mais tempo, aquele sorriso bonito em seu rosto.

É, enfim, na sala de estar da nossa vida, que acomodamos as pessoas a quem damos um significado especial. Parafraseando um grande escritor, temos, pois, o poder de tirar pessoas da multidão e dar a elas um rosto novo. Pessoas escolhidas a dedo para fazer parte permanentemente da nossa vida de uma forma muito fraternal.

E é ali que a saborosa prosa se prorroga e marca o sentimento que denomino amizade.

Verdadeira amizade que se resume numa espécie de amor que não vai adormecer. Amor humano. Amor por valor. Sentimento que não se cansa e não afasta corações, ainda que geograficamente distantes.

Lucimara Souza

Formada em Letras, Pedagogia e especialista em Comunicação: linguagens midiáticas, atualmente professora. Aprecia a escrita permeada pela criatividade, humor e certa dose de sarcasmo.

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