Uma caminhada de fé

Sem um bom condicionamento físico, sem dimensionar racionalmente o percurso à frente, lá fomos nós, meu irmão e eu.

Logo no início, encontramos uma amiga que seria nossa companhia durante as 6 horas e 15 minutos daquele domingo, e nos ajudaria a tornar mais leve aquela experiência até então desconhecida.

Bem… O caminho foi longo. O caminho foi doloroso.

O caminho é o da Fé, um pequeno trecho do Caminho da Fé. Subidas, descidas, pedras, areia, poeira, poças d’água e lama nos acompanharam.

O tempo fresco nos ajudou. As pernas até pediam mais esforço. Nosso ritmo era bom.

Na primeira parada, olhamos um para o outro e falamos: já conseguimos mais da metade! Havíamos percorrido 17km.

– Vamos continuar?

– Vamos! Dá pra ir…

Nessa hora, eu sentia um pouco de cãibras, no entanto, continuamos a caminhada. Água e frutas deram um gás. Ainda mais motivados, avançamos rumo ao Portal do Caminho da Fé, em São Simão. De onde saímos, da Igreja Santa Luzia, em Cravinhos, 31km nos separavam dele.

Aos poucos, o corpo começou a sentir. Além do calor, sentíamos agora o suor, a dor e um inchaço esquisito nas mãos.

Ora ríamos, ora amaldiçoávamos uma pedra, ora cobrávamos que o outro diminuísse o ritmo para seguirmos juntos. Ora uma palavra de ânimo, ora a parada pra uma foto em mais uma das lindas paisagens que contemplamos, ora uma Ave-Maria em silêncio. Apesar do cansaço, não passou pela nossa cabeça desistir. Deus era nosso amparo. Nossa Senhora, nossa guia. A pisada ficou pesada, porém o propósito fazia com que olhássemos adiante e pensássemos: agora falta pouco!

Seguimos firmes pela fé, despojados de qualquer vaidade, de qualquer egoísmo ou qualquer sentimento que nos desumanizasse. Diante de nossos olhos, as belezas ofertadas por Deus. Cores, cheiros, ar puro e úmido. E, claro, nossa insignificância perto daquilo tudo. A pressa com que conduzimos nossos veículos e nossa vida diariamente não permitem que apreciemos as belezas naturais.

Por vezes aquele questionamento: onde será que estamos? Perdemos a noção geográfica em muitos instantes.

Não importava. Estávamos seguindo a seta amarela, e um sentimento de orgulho, superação e gratidão a Deus invadia nosso coração quando olhávamos pra trás e percebíamos o quanto já tínhamos caminhado.

Quase no final, quando já estávamos bem cansados, comentei: nós não temos problema de saúde!

E hoje, ao refletir racionalmente sobre minha vida, quando olho pra trás, posso ter a mesma sensação que tive quando chegamos ao Portal de destino, em São Simão. Eu consegui! Já foram bastantes obstáculos enfrentados, infinitos altos e baixos, por vezes o desânimo também já me acometeu… Mas Deus e Nossa Senhora estavam ali, fortalecendo a minha caminhada e a dos que estão junto de mim, segurando nossa mão e carinhosamente dizendo: não desistam!

É nós não desistimos.

Percorrer a pé este trechinho do Caminho da Fé foi um desafio, um exercício de autoconhecimento, um teste de superação de capacidade física e um momento penitência e reflexão.

Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, nos proteja. O corpo despreparado fisicamente respondeu naquela ocasião com dor e até febre, mas o espírito ganhou em paz e leveza.

Lucimara Souza

Formada em Letras, Pedagogia e especialista em Comunicação: linguagens midiáticas, atualmente professora. Aprecia a escrita permeada pela criatividade, humor e certa dose de sarcasmo.

Deixe uma resposta