Oppenheimer (2023) – A implosão do tédio
Tecnicamente os filmes do Nolan sempre são domados de uma forma incrível, sua metodologia de trabalho é sempre transportada de forma coesa para as telas.
É fascinante notar como, em sua primeira incursão em uma biografia, Christopher Nolan (A Origem, Interestelar, Batman – O Cavaleiro das Trevas), consegue moldar um filme que ainda carrega características distintas de seu estilo cinematográfico. “Oppenheimer” é uma obra tecnicamente impressionante, que explora a mente de um homem que busca desvendar o código fonte do espaço-tempo, levando-nos a compreender a mentalidade do “pai da bomba atômica”.
Contudo, os maneirismos do diretor que sempre me atordoam, tomam conta da cena. O filme carrega uma abordagem maçante por horas a fio, o que fortalece o sentimento interno de angústia, tédio, desespero e desinteresse, quase nos fazendo implodir junto com a massa nuclear pelos ares com o avanço das horas. Apesar disso, a técnica impecável da produção consegue disfarçar as banalidades dos diálogos expositivos, conferindo uma imensidão maior às cenas.
Tecnicamente os filmes do Nolan sempre são domados de uma forma incrível, sua metodologia de trabalho é sempre transportada de forma coesa para as telas, aquele diretor técnico e meticuloso é sempre acompanhado de uma equipe que compreende suas ideias e entende suas neuras. O som do filme é admirável, trabalhando de uma forma incrível o uso dos silêncios que são respondidos através de estrondos nucleares ou estrondos de diálogos. Impossível não citar o lindo trabalho de montagem, que manipula muito bem o tempo, transitando de uma forma frenética e conseguindo nos levar em viagens interestelares de uma filmagem verdadeiramente bombástica.
Entretanto, em sua grande maioria em toda sua filmografia, nunca gostei da forma que o diretor trabalha o desenvolvimento de seus personagens, a forma de seu tecnicismo na parte da construção do filme me parece ser remetida também, na construção de seus roteiros, como consequência, na construção humana em suas obras. Nesse aqui, em especial, é impossível ignorar a abordagem questionável de Nolan quanto à representação do corpo feminino, que é reduzido a objetos de cena. Mulheres que poderiam carregar situações fortes e desenvolver suas próprias narrativas são subestimadas e relegadas a papéis estereotipados de corpos desnudos, embriaguez e relacionamentos com homens.
Além disso, como apontei anteriormente, a direção de Nolan com os atores pode parecer artificiosa em certos momentos, com tudo meticulosamente no lugar, sem espaço para o imprevisível. Isso parece um tanto inadequado, tirando um pouco da autenticidade em um filme que lida com temas humanos. E mesmo com essa barreira, Cillian Murphy, consegue brilhar de uma forma incrível como J. Robert Oppenheimer, um personagem de camadas que apenas um grande ator consegue imprimir em um filme tão quadrado. Em alguns momentos, seria interessante ver Nolan abraçar um estilo totalmente esquisito e se tornasse super experimental. Infelizmente, a abordagem biográfica e política do filme acaba ofuscando o potencial para algo realmente memorável, relegando-o à obscuridade.
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Kai Bird, Martin Sherwin
Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Kenneth Branagh, Florence Pugh, Matt Damon, Rami Malek, Casey Affleck, Gary Oldman, Dane DeHaan, Alden Ehrenreich, Scott Grimes, Jason Clarke, Kurt Koehler, Tony Goldwyn, John Gowans, Macon Blair, James D’Arcy, Harry Groener, Tom Conti, David Krumholtz, Matthias Schweighöfer, Josh Hartnett, Josh Zuckerman, Dylan Arnold, Emma Dumont, Jefferson Hall, Britt Kyle, Louise Lombard, Matthew Modine, Gustaf Skarsgård, Danny Deferrari, Devon Bostick, Christopher Denham, Máté Haumann
País: EUA
Duração: 180 minutos
Sinopse: O físico J. Robert Oppenheimer trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica.
NOTA: 3