Færeyjar, Ilha das Ovelhas
Seguindo a viagem, depois da Terra do Gelo, nossa próxima parada é numa ilha não muito turística, conhecida no idioma dos nórdicos antigos como Færeyjar, traduzindo: Ilha das Ovelhas ou dos Carneiros. O nome tradicional em português, é Ilhas “Féroe” ou Ilhas Faroé(s), em feroês Føroyar ou Føroyarland, em dinamarquês Færøerne. Essas ilhas são território autônomo da Dinamarca e decidiram não aderir à União Europeia, gradualmente têm alcançado uma autonomia e futuramente tem a possibilidade de tornarem-se independentes da Dinamarca.
As ilhas Féroe são um arquipélago de 18 ilhas, algumas desabitadas, que acolhem ao todo 47.000 pessoas numa área de 1.499 km².
Atracamos numa das maiores ilhas do arquipélago chamada Streymoy, localizada no Atlântico Norte a meio caminho entre a Escócia e a Islândia. Para se ter uma ideia do tamanho desse arquipélago, entre o extremo norte e sul da ilha são apenas 113 km. A maior cidade é a capital, Tórshavn e possui 16.000 habitantes. As ilhas Féroe é um grande deserto verde, salpicado de algumas construções e muitas ovelhas. (Uma curiosidade: existe na ilha uma população de 75.000 ovelhas).
A história desse arquipélago iniciou-se em 600 d.C. com sua colonização por irlandeses. A primeira menção conhecida das Ilhas Faroé foi feita pelo monge irlandês Dicuil. Segundo a Saga dos Faroeses, com mais de 1200 anos, o primeiro colonizador foi um viking chamado Grímur Kamban, que aportou no final do séc. IX. Nos anos de 970-1280 tornou-se República, e país tributário à Coroa Norueguesa. À partir de 1700 a Coroa Dinamarquesa tomou posse e anos depois passou a ser administrada como parte da Islândia.
Durante a II Guerra Mundial (1940-1945) foi ocupada pelos Britânicos, que suspendeu os contatos com a Dinamarca. Um ano mais tarde houve um referendo para votar a independência do arquipélogo, mas dias depois foi anulada pela Dinamarca e a partir de 1948 o governo autônomo é permitido.
Outro fato interessante é sobre a língua faroesa, descendente do idioma nórdico antigo falado na Escandinávia durante a Era Viking, até o século XV. Possui uma ortografia semelhante a da Islândia e Noruega, mesmo com reformas protestantes e a proibição do idioma pelos dinamarqueses no ano de 1538. A tradição oral sobreviveu por 300 anos, a língua não foi escrita e o faroês foi finalmente reconhecido como língua oficial das Ilhas Faroé em 1948.
As ilhas têm uma forma muito acidentada, rochosa, com costas alcantiladas recortadas por profundos fiordes. Sem contar o clima com temperaturas médias negativas oscilando entre 0°C em janeiro e 11°C em agosto. Você já imaginou viver num país de verões frescos e céu em geral nublado, com frequentes ventos fortes? Pois até agora não entendo como essas ilhas são habitadas! (risos). Existem muitos países onde há farturas de riquezas minerais, como: metais, pedras preciosas, pérolas, vinho, cereais. Mas parece que o Universo negou toda essa riqueza a aquele povo Faroeses, e apenas 7% do solo e cultivável.
Ao conduzir pela ilha o único que se vê é a vegetação de gramas cobrindo os morros e muito utilizada para a criação de ovelhas.
A riqueza da ilha está praticamente no mar, nos peixes – é lá que está a grande riqueza da nação faroesa. A pesca é responsável por 98% das exportações realizadas e praticamente todo o comércio deriva dos produtos capturados no mar, como bacalhau, salmão, arenque. A piscicultura de salmão e truta é um setor que tem crescido e contribuído para o crescimento da balança comercial.
Atualmente estima-se que existam reservas petrolíferas no subsolo oceânico faroês e têm sido realizadas prospecções com sinais positivos.
A cultura das Ilhas Faroe tem suas raízes na cultura nórdica. As Ilhas Faroe por muito tempo estiveram isolada dos principais movimentos culturais que surgiram em diferentes partes da Europa. O que significa que a população local conseguiu manter uma grande parte de sua cultura tradicional como a caça às baleias, uma atividade regulada pelas autoridades locais, mas não pela Comissão Baleeira Internacional, essa tradição datam desde 1584. Anualmente, cerca de 800 baleias-piloto são mortas por ano, principalmente durante o verão pelos habitantes das ilhas.
As caçadas, chamadas de grindadráp em feroês, não são comerciais e são organizadas pela própria comunidade; qualquer pessoa pode participar. Quando um grupo de baleias é avistado próximo da costa os caçadores participantes cercam as baleias-piloto através de um grande semicírculo formado por barcos e então, lentamente e silenciosamente, começam a conduzir as baleias em direção à baía ate serem encalhadas. Quando o grupo de baleias encalha o abate começa.
No dia em que atracamos houve um desses abates bem próximo ao porto. Pra mim é um ato de selvageria, mas pra quem vive na ilha é uma fonte de sobrevivência, já que essa atividade fornece alimento para muitas pessoas que moram ali. A população local considera a caça uma parte importante de sua cultura e da história das ilhas. Alguns grupos de direitos dos animais criticam esse tipo de caça como sendo cruéis e desnecessárias e há uma grande discussão sobre a sustentabilidade na caça às baleias, que no entanto é considerado um impacto não significativo sobre a população de baleias.
Conversando com um guia local, um morador da ilha que lembrava que na sua casa eram autosuficientes, já que seu pai tinha um barco e dos sete dias da semana, os seis dias comiam o que o pai pescava. Durante muitas gerações os Feroeses praticavam a arte da sobrevivência, que dependia daquilo que podiam obter por terra, como o carneiro, batatas e nabos. Dizia que em Tórshavn não haviam supermercados, apenas barcos pesqueiros que vendiam produtos frescos como o salmão, a carne de baleia e arenque… (nessas horas penso que maravilha ter nascido no Brasil, nossa terra abençoada, onde tudo o se planta dá muitos frutos!).
Enquanto escrevo vou navegando passando pelo Estreito de Gibraltar… a nossa parada da próxima semana.
e seus conhecimentos vão aumentando, super legal o texto.Parabéns.