Índia: Goa, um pedaço português
De volta a Mumbai, seguimos nossa viagem depois de conhecer as Grutas de Ajanta e Ellora. Fizemos uma rápida parada na capital, que utilizamos como cidade base para podermos nos locomover com mais facilidade, já que as distancias entre um lugar e outro são longas.
Nosso destino era chegar ao estado de Goa, que foi colonizado por Portugal e lembra bem o Brasil. O estado fica localizado na costa do mar da Arábia, cerca de 400km de Mumbai, nossa parada foi numa cidadezinha chamada Palolem. Isso depois de mais de 14 horas de viagem no trem noturno, que já estamos acostumadas e, assim que entramos no nosso vagão, transformamos os acentos em leito.
Desta vez compartilhamos experiências com dois casais bem jovens de poloneses que estavam viajando pela Índia há um mês. Nos contaram histórias vividas, o que achavam da viagem, do país e das pessoas. Falaram também sobre algumas situações pelas quais haviam passado como turista e não viam a hora de voltar para casa.
A noite caiu e com ela veio o cansaço. Hora de descansar as pernas depois de tantas andanças, lembrando que é somente o comeco da viagem. Durante a madrugada estávamos dormindo e acordei com um grito. Acendi a lanterna, olhei para o lado e uma das meninas polonesas estava chorando…
Perguntei o que havia acontecido… ela soluçava, não queria falar muito, disse que acordou com um homem tocando o seu corpo, tentei iluminar o corredor do vagão mas o infeliz saiu correndo. Ela me pediu para acordar o seu namorado, que inconformado, não pôde fazer nada para evitar a situação, já que ambos tinham que dormir em assentos separados. E nós apenas assistíamos a impotência do casal perante aquela situação desconfortável e desagradável.
Para os homens Indianos é difícil entender que as mulheres ocidentais são totalmente diferentes culturalmente. Somos livres, queremos respeito, e não aceitamos que um homem nos olhe como se fossemos animais e nos coloquem as mãos! Simples assim.
Embalar no sono de novo foi difícil depois do acontecimento… poucas horas depois começou amanhecer. Olhava pela janela e via a paisagem, o verdinho da Índia nos impressiona. Campos de arroz, milharal, muitas cabras, vacas, um cenário totalmente rural. Durante o trajeto começaram a aparecer casas de arquitetura colonial adornadas com azulejos azuis portugueses, muitas delas coloridas. Estávamos a caminho do litoral, vendo pela janela do trem uma Índia rural e colonial, em cada estação por onde passávamos já não se via tanta gente amontoada, era tudo mais tranquilo e relaxado.
Palolem
Ao desembarcar do trem na estação de Palolem, já sentíamos o cheirinho do mar e o calor que nos esperava. Era hora de descansar de toda aquela confusão das grandes cidades, e de todos os quilômetros rodados em tão pouco tempo. Encontramos uma pousada simples e aconchegante bem pertinho do mar. Ficamos três dias para poder descansar. A cidade não estava lotada, pois a temporada alta não havia começado ainda, geralmente os turistas que frequentam o litoral do estado de Goa são Russos ou Israelenses. Nota-se que o turismo foi desenvolvido para os Israelenses, já que cardápios e muitas placas de informação são escritos em Hebraico, além de ser fácil encontrar pratos típicos.
Diria que Palolem é um dos lugares mais tranquilos de Goa, conhecida por suas praias de areia que chegam a lembrar um pouco das praias mais selvagens do nosso Brasil. Um local ideal para aqueles que buscam cursos de Yoga. Em Palolem nos revitalizamos com banho de mar e assistimos a incríveis pores do sol.
Já o norte de Goa, estão cidades como Arambol e Ajuna que são conhecidas por festas eletrônicas e noites agitadas, mas preferimos ficar com a tranquilidade de Palolem.
O estado de Goa foi colônia Portuguesa por mais de 400 anos, e em 1961 foi tomada pelo exército indiano, que derrotou as forças militares portuguesas presentes no Estado. A língua oficial de Goa é o concani, mas existem pessoas que ainda falam o português e muitos são católicos. O comportamento dos habitantes de Goa é bem diferente do resto da Índia, cheguei a me sentir um pouco mais em “casa”.
Durante nossa estadia em Palolem conhecemos um senhor jornalista e apresentador de um jornal Holandês. Ele escrevia um livro sobre o assassinato de um dos reis do Nepal com quem ele teve muito contato no período em que trabalhava no telejornal. Segundo ele, o rei foi morto pelo próprio filho. Ele ainda nos contou que há 10 anos decidiu deixar a carreira e a vida na Holanda para viver em Auroville, uma comunidade internacional fundada em 1960, dedicada a vida sustentável e harmoniosa.
Atualmente, essa comunidade tem cerca de 4.000 moradores de diversas partes do mundo e ele nos contou como era a vida lá. O conceito da cidade começou em 1930 e somente em 1960 começaram as construções. A ideia principal de Auroville não era apenas de criar uma cidade espiritual, mas também uma cidade exemplar, na qual cada cidadão contribuísse de alguma forma com a comunidade, permitindo sua viabilidade.
Como temos a síndrome das pernas inquietas, decidimos visitar Panaji ou Pangim, antigamente chamada Nova Goa e, atualmente, é a capital do Estado. Todos os guias e blogs de viagem recomendavam uma visita a cidade, então decidimos conhece-la. Foram 2 horas e meia de viagem e utilizamos 2 ônibus públicos para a locomoção, ao chegar não sei se tínhamos muitas expectativas, mas nos decepcionamos um pouco.
Acho que talvez os livros de viagem possam ter exagerado um pouco.
Conhecemos um dos principais bairros, onde caminhando e lendo o nome das ruas, era possível notar que todas tinham um nome português. As fachadas das casas e a arquitetura é do estilo português e muitas eram revestidas de azulejos, com o nome da família. No auge da colonização portuguesa Pangim deve ter sido realmente um lugar charmoso, lembrando um pouco de Portugal, a cidade nos pareceu um lugar nostálgico… onde as construções e a arquitetura guardam a história de uma Índia Portuguesa.