Índia: Khajuraho

Depois de alguns meses sem escrever devido a um momento de “pausa interior” seguimos nossa viagem. Deixamos Agra, a cidade do romântico Taj Mahal, nos despedimos da cidade de Orchha e de Rosnie com quem compartilhamos momentos divertidos e que nos ensinou sobre como é viver sendo um transexual na Índia.

Seguimos em direção a Khajuraho, cidade localizada no Estado de Madhya Pradesh, famoso por seus templos Kama Sutras, uma cidade pequena, rodeada de uma área verdinha e ainda bem rural, onde  muitas das ruas ainda não são nem asfaltadas e ainda assim a cidade conta com um aeroporto internacional.

Neste vilarejo encontra-se um dos Patrimonios da Humanidade: os templos do Kama Sutra. Uma série de templos Jainistas e Hinduistas que são únicos na Índia. Originalmente existiam cerca de 85 templos construídos a mais de 1000 anos, a maioria deles foram destruídos e somente 22 deles permanecem em bom estado de conservação. Talvez por terem sido construídos numa zona pouco habitual, conseguiram sobreviver ao Império Mongol muçulmano. Os templos foram abandonados com o tempo e permaneceram ocultos até o ano de 1838.

Esses templos na Índia foram fortemente influenciados pela escola filosófica Tântrica. Nos seus entalhes é possível encontrar todos os tipos de esculturas da vida cotidiana das pessoas, como paradas militares, procissões religiosas, deuses, heróis épicos, homens realizando atividades cotidianas, animais mitológicos e cenas eróticas. Os templos de Khajuraho constituem um harmonioso canto à vida, aos prazeres dos sentidos e amor.

Dentro da escola tântrica do pensamento toda a energia se divide em masculina e feminina e uma não pode funcionar sem a outra.

Nos seus releves podem encontrar os 4 objetivos da vida: Dharma, Artha, Kama y Moksha.

Dharma dever religioso que produz riqueza, Artha são as riquezas que permitem obter os prazeres da vida, Kama o prazer e desejo da liberação e Moksha a liberação do renascimento e o alcance do Nirvana. Cada uma dessas etapas estão muito bem representadas nos templos, tendo bastante ênfase no Kama.

Desta vez optamos em nos hospedar na casa de uma família indiana. Havíamos lido num blog de mochileiros sobre um adolescente que trabalhava ajudando ao pai a conduzir o rickshaw e tinha um sonho de um dia ter um pequeno albergue.

Nos chamou a atenção a história de Lucky, um garoto de 18 anos que há um ano hospedava pessoas em sua casa através do coachsurfing, para poder aprender idiomas com os hospedes e também poder trocar conhecimentos de outras culturas.

Enviamos uma mensagem a ele, que no dia seguinte foi com seu pai nos receber na estação de trem. Ao desembarcar lá estava ele com uma folha de papel escrito o nosso nome, foi uma surpresa, pois não imaginávamos sermos recebidas assim. Nos levou até sua casa, e no caminho contava um pouquinho de sua vida. Ele começou a receber turistas em casa através do conhecido aplicativo para viajantes coachsurf e com isso passou a conhecer pessoas que falavam francês e espanhol. Lucky começou a estudar castellano e podia se comunicar super bem. Seu sonho é aprender idiomas, abrir um hostel e um dia conhecer o mundo.

Bem naquele dia um turista iria levá-lo de passeio a Rishikesh e a Nova Delhi, ele estava tão feliz, pois era a primeira vez que sairia de casa para conhecer um outro lugar. Conhecemos a pessoa que o acompanharia naquela viagem e o tratava como um irmão mais novo.

Passamos duas noites com a família dele, nos comunicamos mais com o pai, já que a mãe não falava nada de inglês. Aos poucos, entre gestos e sorrisos, nos entendemos também. Nos levou ao templo onde frequenta todas as terças e sábados. Um templo no meio de uma floresta, bem diferente dos templos que havíamos conhecido até então. Esse era mais ao ar livre, com árvores decoradas, e pequenos santuários ao redor. Ali a mãe fez sua puja, participamos do grupo que tocava tambores e nos presentearam com chocalhos e fizeram-nos acompanhar as cantorias, os mantras.

Naquela noite celebravam o Diwali (festa das luzes). Ao retornar para casa, ela nos vestiu em seus saris coloridos e começou a preparar uma massa de pão e fazer cumbuquinhas. Com pedacinhos de algodão humedecidos em azeite de gergelim, ajudamos no prepraro e acendemos todas as velinhas e decoramos toda a casa. Desde a entrada até seu pequeno altar que fica num cômodo separado.

A casa era bem simples, não havia encanamentos para a água, assim que buscavam água nos poços artesanais e as armazenavam em baldes.

À noite nos reuníamos para jantar, servido no chão, compartilhando a vivenciava deles. Ela nos contou um pouco sobre sua vida, uma mulher de 35 anos, mãe de dois filhos, uma menina de 19 anos e um garoto de 18. Aos 14 anos casou-se com seu marido, que na época tinha apenas 16. Nessa região as pessoas se casam muito cedo, casamentos arranjados, diferente de outras partes da Índia.

A melhor maneira de percorrer Kajuraho e os templos foi alugando uma bicicleta, já que a cidade é plana, e o clima ajudava muito. No dia seguinte nos  despedimos da família com um café da manhã indiano. Ficamos emocionadas com a forma como nos trataram, com muito carinho, atenção e respeito.

Agora seguimos adiante… em direção a Chitrashook.

fotos: Gi Mancinelli

Graziella Marasea Cebollero

Viaja o mundo a trabalho e com isso reúne diversas histórias e fotos que irá compartilhar com a gente.

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