Índia: Mumbai

Mumbai, nossa primeira parada. O avião aterrizou por volta das 4h30 da manhã no Aeroporto Internacional de Chhatrapati Shivaji, ao caminhar pelo aeroporto todo forrado de carpetes já sentimos o cheirinho de humidade e o suor tomando conta do corpo e da roupa. Gritaria por todos os lados e Indianos se amontoando nas fila para passar pela imigração.

O aeroporto estava lotado e por sorte não havia fila para estrangeiros. Nos fizeram perguntas como: qual a nossa religião, estado civil e motivo da viagem. Rapidamente recebemos um carimbo de entrada no nosso passaporte. É preciso ter visto para entrar na Índia, o qual pode ser obtido online ou através do Consulado Indiano.

Desde então nossa aventura começou. Pelo menos era o que eu pensava, mas ela estava apenas começando… muitos dos livros turísticos recomendavam chegar até o centro da cidade em taxi, uma maneira mais segura, mas optamos pelos transportes públicos. Assim que tomamos um ônibus local até a estação de trem onde atravessariamos Mumbai.

Ida ao hotel, de trem

Ao chegar na estação ficou clara a recomendação de ir de taxi, pois no andar superior era visível a loucura que é tomar um trem. Parecia um formigueiro. Pessoas penduradas e atravessando os trilhos do trem, gente carregando caixas, cestos, carrinhos, cachorros abandonados, vendedores de comidas, era um caos. Olhávamos aquelas cenas e pensávamos como iriamos entrar naquele trem, onde as pessoas se esmagavam e empurravam-se. Um verdadeiro terror pra quem chega a primeira vez a Índia.

Respiramos fundo e descemos escadas abaixo com as mochilas, fomos empurradas, observadas, todos nos olhavam, parecíamos seres de outro planeta. Havia lido que Mumbai era bem turística, por isso imaginei que estavam acostumados com turistas, mas parecia que não. É período de baixa temporada, o que reduz drasticamente o número de turistas nas estações de trem e ônibus.

Ao entrar no trem viajamos nos vagões de mulheres. Sim, existe isso lá por questão de segurança. Além de serem divididos para homens e mulheres, existe ainda a primeira e segunda classes, pessoas com câncer e inválidos, vendedores e mercantes. Optamos por viajar na segunda classe com as mulheres. Ali íamos assistindo a todas elas vestidas em seus saris coloridos. Elas nos olhavam e nós também, pois era um choque cultural mútuo. Vê-las vestidas em saris elegantes e descalças, algumas pareciam ciganas, vestidas com todas as cores e ao mesmo tempo os saris bem encardidos, na verdade éramos seres estranhos naquele trem.

O vagão lotado era apenas um dos problemas. Tinha também o cheiro de esgoto que toma conta de Mumbai por todas as partes. Do trem era possível ver a paisagem monótona dos barracos, intercalada com alguns arranha-céus que pareciam estar abandonandos ou totalmente descuidados. Pensei: se isso é Mumbai, é bem decepcionante.

Aromas únicos e contrastes

Ao chegarmos no hotel, num dos bairros mais centrais e bem localizados, nos demos conta de que Mumbai era realmente uma cidade impactante, ela não passa despercebida. Você pode caminhar nos bairros mais luxuosos ou nos mais pobres, mas duas coisas eles tem em comum: sujeira e o terrível cheiro de esgoto. Às vezes se misturam com os odores dos incensos, das comidas de rua e das especiarias, numa combinação que é preciso ter estômago para aguentar.

Mumbai está localizado no estado de Maharashtra, situada às margens do oceano Índico. É a maior cidade e a mais importante economicamente da Índia e conta com uma população de quase 21 milhões de habitantes. Durante a colonização britânica, a cidade foi reformulada com grandes projetos e, atualmente, o que se vê são grandes edifícios da época colonial e muito deles descuidados e abandonados. A cidade na época do seu apogeu deve ter sido realmente linda, mas o que vemos atualmente é um crescimento desenfreado sem nenhuma estrutura. Mumbai é a sede da indústria de cinema e televisão conhecida como Bollywood.

É um lugar onde todos os indianos se misturam. Gente do país inteiro migra para essa cidade em busca de melhores oportunidades de emprego, estudo ou para aproveitar o que a cidade tem a oferecer.

Caminhando pelas ruas encontrávamos gente do sul, do leste, do norte da Índia, cada um com seu idioma e suas diferentes tradições. A cidade teve um crescimento tão rápido que ficou densamente povoada. As favelas que víamos pela janela do trem, na verdade são “bairros” informais, pobres, com moradia básica, mas sem saneamento básico. A pobreza e a riqueza estão presentes em todas as partes, no centro desses “bairros” também estão os edifícios luxuosos, prédios altos e modernos, rodeados pela mesma sujeira e odores que tomam conta de toda Mumbai.

No bairro em que nos hospedamos estava o monumento “Gateway of India”. Construído na época colonial para comemorar a visita do Rei e da Rainha da Inglaterra. Em frente esta o Taj Mahal Hotel, um luxuoso hotel com uma história interessante. Na época colonial, os hotéis britânicos não hospedavam indianos, mesmo se fosse multimilionário ou bilionário como Jamsedji Tata. Falam que Tata decidiu construir o hotel mais luxuoso da cidade em frente do grande monumento ao colonialismo britânico! Aliás um dos motivos do movimento de independência da Índia foi que os britânicos faziam os indianos sentir-se como estrangeiros dentro de seu próprio país. A diária mais barata nesse hotel é de 250 dólares.

Lazer

Mumbai é banhada pelo mar Índico, assim que numa tarde fizemos uma caminhada por Chowpatty Bech para conhecer a vida dos residentes, o que eles gostam de fazer nas horas de lazer. Na cidade não há muitos espaços abertos como praças ou parques, por isso a praia para eles é a praça. É o lugar preferido para passear no fim da tarde e a noite. O mar não está apto para banhar-se devido a poluição e ninguém toma banho de sol com roupas de praias, aliás as mulheres estão sempre bem cobertas e escondidas entre seus saris.

Lavanderia a céu

Uma outra curiosidade sobre Mumbai é de que a cidade tem a maior lavanderia a céu aberto do mundo. Conhecida como Dhobi Ghat esse local possui quase 1000 tanques de roupas e quase 6.000 pessoas trabalhando ali, a maioria são homens. Quase todas as roupas de muitas partes de Mumbai são enviadas para esse local, sendo os maiores clientes hotéis e hospitais. São milhares de quilos de roupas lavadas manualmente, as pessoas trabalham entre 14 e 16 horas diárias e quase todos vivem ali mesmo. As condições do local são bastante insalubres e assistir aos trabalhadores submetendo-se a esse tipo de tarefa é de deixar qualquer ser humano com um nó na garganta.

Espiritualidade

Muitos dos turistas que visitam a Índia dizem que vem em busca de espiritualidade. Até agora o que realmente expereciamos foi a desigualdade sem fim e muita religiosidade.

Em Mumbai é possível encontrar igrejas católicas, mesquitas e muitos templos.

Tentamos fazer uma visita a uma das mesquitas mais famosas da cidade, segundo os guias turísticos, mas em nenhum dos livros diziam sobre a passarela que tem que atravessar para chegar nessa mesquita de Haji Ali Mosque. Ela fica localizada numa pequena ilha, onde só é possível ter acesso durante a maré baixa. Ao caminharmos por ali ficávamos cada vez mais impressionadas com o que víamos. Em meio a tanta gente, vestida com seus belos saris coloridos, levando prendas e muitos fazendo selfies, a passarela era cercada por pessoas pobres, crianças, homens e mulheres idosos abandonados, gente com partes do corpo amputadas, cegos, era um festival de pobreza e miséria humana.

Houve vezes que nos surpreendemos por gestos de pessoas dentro dos ônibus, trens ou mesmo pelas ruas, talvez as pessoas são as que fazem desse local o encanto!

Aos pouquinhos fomos nos acostumando com essa loucura que é essa cidade, por muitas vezes te esgota, te deixa indagado, horas te surpreende, te estressa e desilude, é um local que você odeia e ama ao mesmo tempo… assim é Mumbai!

Seguimos viagem, tentando aprender um pouquinho mais desse país tão contrastante que é a Índia…

Graziella Marasea Cebollero

Viaja o mundo a trabalho e com isso reúne diversas histórias e fotos que irá compartilhar com a gente.

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