Índia: Udaipur, Cidade dos Lagos e Jalsaimer, A Cidade Dourada

Com apenas algumas horas de ônibus, a 280km de Jodhpur, (a menor distância percorrida entre uma cidade e outra na Índia) chegamos em Udaipur. Com quase 500 mil habitantes, a cidade está localizada ao sul do Estado do Rajastão, terras de reis, marajás e seus majestosos fortes e palácios. No passado, um local muito rico, turbulento e romântico. Terra de cultura vibrante e incríveis atrações, atualmente a base da economia é o turismo.

Udaipur foi a capital do antigo reino de Mewar. Se trata de uma cidade preciosa, tranquila e com grandes construções. Udaipur também é conhecida como a “cidade dos lagos”, uma das cidades mais ricas do Rajastão. Rodeada por palácios e lagos como o Pichola (é o maior deles e se localiza no coração da cidade), Fateh Sagar, Udai Sagar e Swarup Sagar. Construído por Pichhu Banjara durante o reinado de Maharana Lakha em 1362.

As margens do lago Pichola se encontra o City Palace, uma construção do século XII, construído pelo Maraja Udai Singh e ampliado pelos seus sucessores com uma fusão de estilos arquitetônicos extravagantes. Foi utilizado muito granito e mármore, conta com uma vista espetacular para o lago e fundos para as montanhas.

Como esta cidade está roeada por lagos, ela exala uma tranquilidade bem diferente do caos do resto da Índia, uma cidade com um ar místico e relaxante. Deixamos surpreender-nos pelas cores brancas de suas casinhas, quase todas com terraças e o lago rodeado por restaurantes. Udaipur também tem sido lugar de muitas rodagens de filmes tanto de Hollywood como Bollywood, um dos filmes mais conhecidos rodados ali foi James Bond conta Octopussy, de 1983, estrelado por Roger Moore.

Depois de uma parada de três dias nessa cidade, seguimos viagem a caminho de Jalsaimer.

Jalsaimer – A Cidade Dourada

Durante o trajeto já sentíamos uma grande mudança na temperatura. Era tudo muito mais árido e seco. As cores das paisagens iam mudando para um tom amarelado e, ao mesmo tempo, nossa pele ficava cada vez mais seca e os lábios rachados. Cada vez mais próximas do deserto do Thar. Jalsaimer uma cidade murada e protegida pelo seu forte construído em 1156, situado no monte Trikuta e que foi palco de muitas batalhas.

Localizada bem no meio do deserto do Thar, com uma população de 78.000 habitantes, bem próxima à fronteira da Índia com o Paquistão. O deserto do Thar ou também chamado o Grande Deserto Indiano, é uma extensa região entre o noroeste da Índia e a região oriental do Paquistão. Thar se estende por uma área de 805km de comprimento e 485km de largura, uma das principais atividades é o pastoreio e a indústria de couro e lã. Jalsaimer foi uma cidade destacada na época da rota do comércio de especiarias.

Atualmente Jalsaimer, além de viver do turismo, também possui uma base militar. Local estratégico nos embates com o vizinho Paquistão. Durante nossa viagem foi possível ver através da janela do ônibus muitos soldados armados, carros blindados, tanques e caminhões carregando equipamentos bélicos.

Ao chegarmos na cidade caminhamos rumo ao hostel, localizado aos pés do forte da cidade, com a sensação de que tínhamos viajado no tempo, voltado para a Idade Média Oriental ao caminhar entre palácios, templos e muralhas…

Ao sermos recebidas no hostel fomos direto para a terraça onde contemplamos a vista. A maioria dos edifícios são construídos em pedras arenosas e a medida que o sol descia, a cidade se resplandecia num tom dourado, quase mel. Assim que esses detalhes deixavam a cidade especial.

No dia seguinte saimos numa caravana em direção ao deserto. Uma viagem de 55km em Jeep e logo seguimos mais ao interior do deserto em camelo. Cruzamos suas areias amarelas, até chegar em suas dunas. O sol nos esperava para contemplarmos o atardecer e à medida que o sol se punha de pouco a pouco a cor do deserto foi se tornando mais escura até cair a noite.

Caminhamos no meio do nada, até chegar numa outra duna onde passaríamos a noite. O jantar foi servido, tudo muito simples e preparado por aqueles nômades do deserto. Nosso jantar não foi a luz de velas, mas foi a luz das estrelas. As acomodações em tendas eram confortáveis, ao redor tínhamos uma fogueira e fomos super acolhidas pelos nômades.

Ao amanhecer retornamos ao hostel, durante o trajeto era possível observar a vida daqueles nômades, pastorando seus rebanhos, e suas grandes manadas de camelos.

No caminho conversava com um dos “Camel Boys”, (são meninos e homens que trabalham cruzando o deserto com os camelos), um deles aparentava ter uns 50 anos de idade, mas tinha apenas 30, devido toda aquela exposição ao sol sua pele já era bem envelhecida. Ele me contou que a temporada no deserto durava em torno de 4 meses, entre Outubro e Janeiro. Quando a temporada terminava voltava para o pastoreio. Trabalhava o máximo possível durante a temporada, tentando juntar dinheiro para sobreviver o resto dos meses.

Nunca teve a oportunidade de estudar, era analfabeto e seus pais, pessoas do campo, não tinham a mentalidade de que estudar era importante. Desde criança sempre foi um “Camel Boy”, atualmente sente que se tivesse tido oportunidade de estudar talvez sua vida teria tido um outro horizonte. E eu lhe dizia que nunca é tarde para aprender.

O calor em Jalsaimer era intenso, às vezes atá respirar ficava difícil. Num certo dia passei muito mal, tanto que não pude conhecer a cidade. Depois do deserto tive insolação, seguido de um resfriado, coisas que fazem parte da viagem e nada que um bom repouso não ajude.

Estávamos hospedadas num hostel chamado Abu Safari, o dono é um ex-Camel Boy que nos contou sobre sua infância e que havia passado sua juventude trabalhando como “Camel Boy”. Também nunca teve a oportunidade de estudar, era analfabeto e, um dia, teve a oportunidade de juntar-se com um parceiro e montar o hostel. Abul, um homem de grande coração, nos falou também que tem um sonho, de um dia abrir uma escola para ajudar os “Camel Boy” e as crianças do deserto a terem acesso a alfabetização e a educação.

Muitos dos viajantes que se hospedam naquele hostel acabam ajudando Abul, com os serviços de escritórios, já que a maioria dos funcionários “ex-Camel Boy” não sabem ler ou escrever.

 

Antes de seguir rumo a outro destino, tivemos a oportunidade de conhecer um outro vilarejo. Um dos ex-Camel Boy do Hostel nos levou para lá e, ao chegarmos, vimos uma vila desenvolvida para receber turistas. Queríamos na verdade conhecer um lugar autêntico, com nômades de verdade… então ele nos levou ao vilarejo onde vive. Conhecemos sua familia, sua casa e a maneira como vivem. Era um vilarejo bem afastado da cidade de Jalsaimer, para chegar passamos por uma trilha no meio do deserto. As casas feitas de barro, que formam um pequeno quarteirão onde vivem cerca de 40 pessoas.

No vilarejo ficam as mulheres e as crianças pequenas. Elas passavam carregando jarros de cobre e barro, com vestidos coloridos, piercing bem grande no nariz e todas de traços marcantes. Geralmente os homens daquele vilarejo trabalham na cidade de Jalsaimer para poder manter suas famílias e as mulheres cuidam do lar.

Quando chegamos em sua casa, um lugar bem humilde, fomos recebidas pelas irmãs, mãe e sobrinhos, todos com um sorriso no rosto e logo nos ofereceram um chá. O que nos chamou a atenção foi ver a mãe, uma senhora de 86 anos, bordando uma manta enorme estendida no chão. Além das mulheres daquela casa, todas vestidas em trajes coloridos, roupas típicas do Rajastão.

Infelizmente não nos permitiram tirar fotos, pareciam ter medo das câmeras fotográficas. As mulheres daquele vilarejo levavam um bracelete de prata em cada mão que pesava cerca de 5 quilos cada um. Amit explicou que as mulheres, ao casarem, são obrigadas a usar os braceletes, segundo ele custam bem caro. Como decoração, o bracelete leva uma figura parecida com uma pirâmide. Quando uma delas me estendeu a mão, tinha a pele toda sensível ao redor daquele bracelete, já que depois de casadas não podem tirar. Fiquei imaginando o quão incômodo é usar isso. Cheguei a pensar que poderia ser usado como forma de aprisioná-las, mas infelizmente não podíamos nos comunicar muito, já que elas não falavam inglês e nossa comunicação era feita através de gestos.

Vimos uma das crianças com um bracelete, perguntei se aquela criança era casada. Falaram que não, mas como uma criança utilizaria um bracelete que significa matrimônio? No Estado do Rajastão é muito comum casamento com crianças a partir dos 12 anos. Tentei pesquisar algo sobre aquela tribo, mas não consegui nenhuma informação.

Passamos 4 dias naquela cidade dourada, fomos tão bem acolhidas pelas pessoas do deserto e de Jalsaimer que foi difícil partir, mas era preciso. Na memória também ficou o cenário maravilhoso dos palácios e deserto.

Graziella Marasea Cebollero

Viaja o mundo a trabalho e com isso reúne diversas histórias e fotos que irá compartilhar com a gente.

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