‘Nunca trabalhei com outra coisa que não fosse música’
O cravinhense Luciano Duarte sofreu influência de diversos talentos da música, o que fez com que se lapidasse e se tornasse uma grande referência em âmbito internacional.
Hoje (09/06) apresentamos a 33ª história da nossa série de reportagens “Personagens de Cravinhos”. O projeto consiste em mostrar, um pouco das pessoas que levam o nome da cidade por todos os cantos do mundo, bem como se destacam no próprio município, com seus empreendimentos, talento, simplicidade e carisma.
E dessa vez vamos contar a história do músico, Luciano Duarte Moreira, 46 anos, que desde muito cedo se encantou pela música, sendo que com cinco ou seis anos tinha como sua brincadeira preferida “coordenar uma bandinha tocando com os amigos da vizinhança”.
“Os instrumentos eram qualquer coisa que podia fazer som, um atabaque (que foi meu primeiro instrumento de verdade), alguns instrumentos de brinquedo e as panelas, tampas de panelas e colheres da minha mãe [risos]”, explica Luciano Duarte.
Depois com 9 anos, teve as primeiras aulas de violão na antiga Casa da Cultura de Cravinhos. Os seus primeiros professores foram os também cravinhenses, João Luís Ardenghe e Berto Silva. A partir daí os estudos e a busca por sempre evoluir na música nunca mais parou.
“Estudei numa escola de música em Ribeirão Preto, que se chamava ‘Cromática’, tive alguns professores de música lá. Depois por indicação de um professor de guitarra, que eu tinha na época, conheci um outro professor e grande músico, um mestre mesmo, chamado Haroldo Garcia (que infelizmente faleceu no ano passado), que foi fundamental na minha formação e estilo musical. Nessa época eu já dava algumas aulas particulares de violão e guitarra e já ganhava meu dinheirinho como professor”, revela Luciano.

Foto: Arquivo Pessoal
Foi em 1993 que se mudou para a cidade de Campinas (SP) para fazer faculdade de Música Popular na Unicamp. Nos sete anos que morou na cidade teve grandes experiências musicais e pôde estudar, tocar e conviver com grandes músicos.
“Em Campinas, o ambiente de muita música mesmo, tanto nos quase cinco anos de faculdade, como nos anos posteriores de formado, que continuei morando lá. Foram nesses anos que realmente me profissionalizei como músico, dando aulas, tocando na noite e em eventos, fazendo as primeiras gravações, enfim, vivendo de música”, conta o músico.
Já em 2000, Luciano Duarte decidiu mudar radicalmente de vida e foi morar em Portugal. Foi algo realmente ousado pois não tinha nada certo, apenas a vontade de viver de música na Europa, uma guitarra e um violão na bagagem.
“Um amigo saxofonista com quem eu tocava em Campinas, desde os tempos de Unicamp, foi meu parceiro nessa aventura. Os três anos que morei em Portugal foram muito intensos e continuei fazendo o que mais amo nessa vida, tocar e fazer música. Tocava em bares, restaurantes, acompanhava cantores, tocava em grupos de música brasileira e de jazz e paralelamente dava algumas aulas”, sorri Luciano Duarte.
Foi nessa época que acabou tendo o convite para participar de várias turnês pela Itália, Espanha e Portugal tocando num grupo de música africana que acompanhava uma cantora de Cabo Verde.
“Foram várias viagens e shows incríveis com produção super profissional e cachês bem dignos. Foi uma época muito gratificante e de crescimento de vida e na minha carreira”, comenta Duarte.

Foto: Arquivo Pessoal
No ano de 2003 voltou para o Brasil e foi um novo recomeço. Morou em Ribeirão Preto (SP) por mais de 10 anos e nesse tempo fez vários trabalhos por toda a região, tocando, gravando e dando aulas. Em 2015 surgiu a oportunidade de um novo trabalho como guitarrista de orquestras em navios de cruzeiros internacionais. Esse foi outro recomeço e mais uma mudança radical de estilo de vida.
“Nesse trabalho nos cruzeiros, que mantive até o início de 2020, tive a experiência de tocar com grandes músicos de diversas partes do mundo em shows e produções extremamente profissionais e exigentes. Foram anos de muito crescimento profissional, além da experiência pessoal de viajar muito e conhecer aproximadamente trinta países pelo globo”, diz o músico cravinhense.
Desde 2020 está de volta à terra firme e morando em Cravinhos (SP), após cinco anos vivendo pelo mundo entre o mar e terra. E são mais de 30 anos só vivendo de música, por isso mesmo a nossa reportagem foi bater um papo super descontraído com Luciano Duarte, que pôde contar um pouco de sua vivência musical, influência, projetos e muito mais. Acompanhe!

Foto: Arquivo Pessoal
InterTV Web – Se você não fosse músico, o que seria?
Luciano Duarte – Nunca trabalhei com outra coisa que não fosse música, seja tocando ou como professor, então é difícil pra mim pensar em fazer outra coisa. Mas se fosse pensar em algo, como eu sempre gostei do mundo das palavras e das ideias, como a poesia, a filosofia e a literatura em geral, se eu não fosse músico, talvez eu fosse seguir por algum caminho desse tipo.
InterTV Web – Quem são as suas maiores influências na música?
Luciano Duarte – Foram e são muitas influências. Seria injusto citar uma ou duas.
Minhas influências foram por exemplo, coisas do dia-a-dia da vida de um menino do interior como a Banda do Coreto da Praça Central de Cravinhos, a saudosa Banda do Graminha do colégio Souza Campos que eu adorava assistir, meu amigo de infância André Rebello, que sempre foi um talento nato pra tocar guitarra e me inspirava muito, as bandas de rock da minha adolescência, principalmente AC/DC, Jimi Hendrix, depois os grandes nomes do jazz como Miles Davis, Charlie Parker, John Coltrane. Além dos mestres da música brasileira como Tom Jobim, Hermeto Paschoal, Milton Nascimento entre tantos outros da nossa música, que é tão rica.
Entre os guitarristas que sou fã e que com certeza me influenciaram, os principais são o John Scofield, Pat Metheny e Mike Stern. E eu não poderia deixar de citar o saudoso mestre Haroldo Garcia, que realmente foi fundamental na minha forma de tocar.
InterTV Web – Você é um artista internacional, já se apresentou em diversos lugares. Qual foi a sua apresentação mais marcante?
Luciano Duarte – É difícil mencionar uma apresentação específica, mas sem dúvida a apresentação no Teatro Municipal de Ribeirão Preto em 2010 que foi gravada e virou um CD/ DVD, foi um show marcante. Foi um projeto ousado e desafiador. Um único show e tudo registrado num único dia. Foi uma apresentação que literalmente ficou gravada e me marcou.

Foto: Divulgação
InterTV Web – Você tem uma música intitulada “Carneiro Leão 133”, que é o nome da rua dos seus pais. De onde veio a inspiração para compor?
Luciano Duarte – É uma homenagem ao lugar onde eu cresci e vivi grande parte da minha vida e onde meus pais vivem até hoje (e atualmente eu também). É uma casa que me traz muitas maravilhosas lembranças e é o lugar pra onde, por mais que eu andasse pelo mundo, eu sempre queria voltar e me aconchegar. A composição foi inspirada nesses sentimentos de querer sempre voltar pro meu lugar de origem, de estar no aconchego do meu lugar e perto das pessoas que eu amo.
InterTV Web – Quantas músicas autorais você tem? Como é o processo de composição?
Luciano Duarte – São muitas composições. Já perdi a conta. Por exemplo, entre 2002 e 2003, inspirado no livro “Calendário do Som” do gênio Hermeto Paschoal, me dediquei à tarefa de escrever pelo menos alguns compassos de uma composição diariamente. Teoricamente, foram 365 composições em um ano. O processo de compor nunca para. Algumas fases componho mais ativamente e outras menos, mas compor é algo que sempre continuo fazendo.
O processo de composição quase sempre é de trabalho mesmo, de ir lapidando, mexendo, experimentando, desenvolvendo e escrevendo as ideias. Diferentemente do que muitos pensam, raramente uma composição surge de uma inspiração instantânea. Geralmente é fruto de dedicação e trabalho, pelo menos para mim é assim que acontece.
InterTV Web – Por quanto tempo você tocou em Cruzeiros? Por que desistiu?
Luciano Duarte – Foram cinco anos. Não é que desisti, é que na verdade, desde 2020 com a Pandemia do Coronavírus, a indústria de cruzeiros, assim como todo o setor de entretenimento e turismo parou e foi um dos mais afetados pela crise. Provavelmente (não se sabe ao certo quando) o setor voltará e minha intenção é voltar a fazer os trabalhos nos cruzeiros quando for possível.
InterTV Web – Você também já foi professor do Projeto Guri. O que tem a falar sobre o projeto e indica a todos que coloquem seus filhos?
Luciano Duarte – Sim, trabalhei como educador de violão no Projeto Guri por mais de cinco anos, até 2015. Só tenho gratidão e boas lembranças desse trabalho. É um projeto incrível que proporciona o estudo e o fazer coletivo de música e agrega muitos valores para a formação de jovens e crianças. Indico à todos e desejo longa vida ao Projeto Guri.
Foto: Arquivo Pessoal
InterTV Web – Hoje é possível viver somente de música?
Luciano Duarte – Hoje, com a crise da pandemia o setor da música está muito prejudicado e está difícil trabalhar. Eu tenho feito algumas coisas, como dar aulas on-line ou presencias respeitando as medidas de segurança, alguns projetos culturais como os da Lei Aldir Blanc que realmente ajudou o setor artístico, e tentando reinventar formas de fazer música. Tenho trabalhado bastante em casa, gravando, produzindo vídeos e estudando, mas financeiramente é um momento bem difícil para os músicos.
InterTV Web – Qual a sua avaliação das músicas atuais e dos cantores?
Luciano Duarte – Falando do que rola na grande mídia, não vejo nada de muito interessante atualmente e estou até bem por fora do que tem estado em maior evidência na mídia convencional. Mas se você procurar o que tem sido feito de novo através de mídias mais alternativas, se você for uma pessoa curiosa e procurar, existe muita coisa maravilhosa sendo feita na música atual. Existem muitos jovens músicos em todos os estilos e, principalmente, misturando estilos e tendências, que são realmente super talentosos e estão fazendo coisas incríveis, mas é preciso procurar fora das mídias convencionais.
Particularmente não me incomodo em ouvir as mesmas velhas coisas que eu gostava e que ainda gosto e na verdade, algumas delas parecem que ficam cada vez melhor com o tempo [risos], mas também me surpreendo com produções atuais fantásticas, mas que ao meu ver, estão nos meios de comunicação mais alternativos.
InterTV Web – O que a música significa pra você?
Luciano Duarte – Adoro a frase do filósofo Nietzsche que diz “Sem a música, a vida seria um erro”. Essa frase descreve o que a música significa pra mim. Não consigo imaginar minha vida sem a música.

Foto: Arquivo Pessoal
InterTV Web – Qual a história mais marcante que você tem com Cravinhos?
Luciano Duarte – Poxa, essa é uma pergunta bem difícil de responder. Mas a banda do coreto da Praça Central tocando aos domingos faz parte de uma história com Cravinhos (desde os tempos de criança que a gente dizia que ia “pular a banda”), que eu lembro com carinho e saudade.
Me lembro que um dos músicos da banda da época que eu era criança, se chamava Donga. Ele tocava caixa na banda. Minha maior felicidade era ser “amigo” do Donga e subir no coreto com ele enquanto a banda tocava. São lembranças eternas no meu coração. É maravilhoso ver essa tradição da banda do coreto viva até hoje na nossa cidade.
InterTV Web – O que Cravinhos significa para você?
Luciano Duarte – Cravinhos é minha terra natal. É minha origem, uma cidade que eu amo e onde tenho tantos amigos e pessoas queridas. Tenho orgulho de ser cravinhense.

Foto: Rafael Fernandes
InterTV Web – Suas considerações finais.
Luciano Duarte – Gostaria de agradecer e parabenizar o Kennedy por sua dedicação e profissionalismo no trabalho jornalístico e de memória histórica e cultural da nossa cidade.
Peço para quem quiser acompanhar meus trabalhos e puder se inscrever no meu canal no youtube aqui vai o link:
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