Terapia Sonora

E hoje temos a vigésima sexta história da Coluna “Preces de Esperança”. Vale a pena conferir!

Padre Josirlei não conhecia aquele paciente e nem foi preciso um diálogo para viver uma experiência significativa. Bastou um olhar sensível, mesmo tendo sido rápida sua passagem por aquele quarto.

Aproximadamente vivendo entre seus 70 e 80 anos, internado no HC, um senhor estava em posse de um objeto, diferente para um ambiente de hospital. Era um rádio ou uma caixa de som portátil que se assemelhava a um rádio à pilha, daqueles de antigamente.

Encantado, o padre logo registrou, em foto e na memória, a delicadeza com que o paciente segurava aquele que certamente fora seu companheiro ao longo de toda vida.

Curioso é que, geralmente, as equipes médicas, como parte de protocolos, não permitem a entrada de alguns objetos quando o paciente está sob internação. Neste caso, em específico, seguramente aquele rádio era bem mais que um simples aparato interativo, representava um instrumento de humanização do trabalho médico, um olhar afetuoso para o paciente, ele que também tinha naquele rádio o seu conforto, a sua companhia e a distração para os longos dias de hospital, reduzindo possíveis estresse e ansiedade.

Foto: Arquivo Pessoal

O “radinho de pilha”, como se falava, em tempos remotos era uma das únicas formas de comunicação do mundo exterior com as famílias, que se reuniam à beira do fogão de lenha. E é esta a memória que o padre resgatou do passado ao olhar para o design retrô do rádio na mão do paciente. Família reunida, moradia na roça, pescaria à beira do rio, orações da manhã e ave-maria das seis da tarde. Época em que rádio era um bem precioso dentro de uma casa, por seu estimado valor sentimental, de onde se ouvia novelas e sucessos de personalidades como o sambista “Zé Keti”, como lembra Padre Josirlei. A experiência deste dia em sua vida foi simples, porém muito valiosa, e merecia ser compartilhada.

Olhar para o paciente e não para a doença torna o ser humano ainda mais humano, e possibilitar ao paciente um ambiente mais próximo de sua realidade é tão terapêutico como sintonizar ondas de um rádio, fechar os olhos e rememorar um tempo em que não nos sentíamos sozinhos e a tecnologia ainda não nos escravizava.

Capelão Pe. Josirlei e Lucimara Souza

Recortes da realidade que suscitam esperança, fé e amor. Experiências vividas pelo Capelão Pe. Josirlei, traduzidas por Lucimara Souza.

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