A luta é de todos

Muitos não sabem, mas o Dia da Consciência Negra foi instituído por causa da morte de Zumbi de Palmares, em 1695, precisamente em 20 de novembro daquele ano. Ele foi um grande líder negro reconhecido por seu espírito de luta contra a escravidão.

Pelo que consta em nossa história e pelo que aprendemos na escola desde pequenos, o Brasil teve seus heróis, dentre eles, o que agora me vêm à memória, Tiradentes. Este foi reconhecido no Brasil como herói nacional, patrono cívico e mártir da Inconfidência Mineira. Foi morto porque se rebelou contra o poder da metrópole Portugal.

Mas por que falar de Tiradentes? O que tem a ver com o Dia da Consciência Negra ou Zumbi de Palmares?

A relação que pretendi fazer é a seguinte: nós, a partir nos anos iniciais na escola, aprendemos o significado do dia 21 de abril, afinal, precisamos manter vivo nosso patrimônio histórico cultural e homenagear aquele que sabemos ter sido um verdadeiro líder.

Comemorar o Dia da Consciência Negra, portanto, deve ser interpretado da mesma forma. É igualmente uma maneira de manter viva em nossa memória as lutas de um povo, especificamente o povo negro, representado por Zumbi de Palmares, símbolo da resistência e luta pelo fim da escravidão, pela liberdade de culto e pela inserção da cultura africana.
Em uma breve explanação, digo que o posteriormente chamado Zumbi nasceu livre, em Palmares, e até parte da adolescência foi criado por um religioso que deu a ele nome de Francisco. Foi inclusive alfabetizado. Jovem ainda, inconformado e sofrendo ao observar a vida de seus irmãos de raça, na condição de escravos, se rebelou e fugiu retornando a sua origem, onde imperou e passou a liderar a resistência contra as tropas lusas, pela liberdade dos escravos. Externando todo seu espírito de luta, mostrou-se guerreiro, corajoso, ganhando, assim, o respeito de todos aqueles por quem ele brigava.

Muitas pessoas desconhecem o passado histórico e por este motivo perguntam: celebrar um dia vai acabar com preconceito contra os negros?

Não! Justamente porque o propósito não é este. A intenção da comemoração do Dia da Consciência Negra é conduzir as pessoas à reflexão acerca de um passado que envolveu um líder negro também de relevante papel para a história, assim como sobre a inclusão dos afrodescendentes de forma igualitária em nossa sociedade.

A data foi, até mesmo, inserida no calendário escolar, através da lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, tornando obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, a fim de transmitir aos alunos a importância do negro na formação da sociedade nacional e sua cultura.

Interessante, não?! Mas será que se incluem ações que preparem professores para fazer cumprir a tal lei?

Isto deve ser uma preocupação da União, do Estado e dos Municípios, pois de nada adianta somente os professores engajados com a promoção da igualdade racial buscarem ferramentas que possibilitem seus trabalhos dentro deste contexto.

Reiterando, em especial, a data de 20 de novembro, é possível compreender que não devemos considerá-la um mero feriado para descanso, mas sim um resgate a um símbolo de liderança a favor da emancipação do povo brasileiro e uma maneira de revigorar toda força em defesa da justiça e equidade.

Brasil é um país miscigenado e o ecletismo de sua cultura, vindo das muitas raízes indígenas, europeias e africanas, é o que configura sua beleza. É possível separar o povo por raças, sendo nosso país tão plural?

É inconcebível a ideia de dividir cada vez mais o nosso povo.

Racismo existe, sim! E a luta contra ele deve ser de todos. Há muito o que se conquistar ainda. Não se veem brancos e afrodescendentes em condições de igualdade, isso é explícito.

Basta frequentar restaurantes caros, shoppings, clubes, ou buscar algum atendimento em hospitais, departamentos públicos, multinacionais. Será que a maioria, ou pelo menos a metade, dos clientes ou funcionários – diretoria, é negra? Observemos a partir de hoje, então.

A criança negra, filha da empregada, terá condições de ser exigida, lá na frente, da mesma forma que a menininha loira, filha do juiz? Naturalmente que não, pois infelizmente no ambiente em que até o ar que respiramos é capitalista, ascender socialmente requer poder aquisitivo, e alto.

Pra tudo isso, há um porquê.

O contexto histórico precisa sim ser considerado, afinal, negros abolidos não foram acolhidos assim com tanto amor pela sociedade. Convenhamos!

Assim, muito do que se vê hoje, vem de séculos passados, sim! Por isso se fala sempre em dívida histórica, herança ideológica. Claro que não dá para generalizar. Há negros muito bem-sucedidos hoje, certamente porque tiveram mais oportunidades, uniram à boa vontade e souberam utilizar isso em benefício próprio.

Não que o branco não tenha enfrentado dificuldades sociais e ainda não enfrente, no entanto, a barreira do racismo ele nunca precisou encarar, pelo menos não nas mesmas circunstâncias que o negro.

Negro sofre até hoje com a discriminação. A desigualdade racial opera em todos os cantos e a falta de oportunidade continua sendo um problema grave, todavia, cruzar os braços e simplesmente se conformar com a triste história de seus ancestrais também não resolve. Certamente o passado deve ser rememorado, mas pelas constantes lutas, que inspiram e dão forças para lutas e conquistas cada vez mais marcantes para a atualidade. Apoiar-se na cor da pele não funciona.

O passado de escravidão não pertence somente às pessoas cuja melanina da pele é mais acentuada, mas também a todos os que fazem parte desta nação. Está faltando consciência humana no ser humano.

A trajetória do negro deve ser fundamentada em sua vontade persistente, que o fará buscar oportunidades em todas as esferas. Além do mais, o próprio negro deve ter orgulho de suas raízes e valorizar sua beleza, não vestindo uma camiseta “100% negro” ou batendo no peito afirmando que é marginalizado, mas sendo consciente de um passado responsável até pela economia da nação em que vive.

A luta pela igualdade, enfim, deve ser de todos; pacífica e contínua. Ninguém é melhor do que ninguém e nada é impossível. Todo mundo pode, independentemente da cor da pele.

Lucimara Souza

Formada em Letras, Pedagogia e especialista em Comunicação: linguagens midiáticas, atualmente professora. Aprecia a escrita permeada pela criatividade, humor e certa dose de sarcasmo.

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