João Carrascoza: uma referência da literatura brasileira

Vencedor de três Prêmio Jabuti (2006, 2012 e 2014), João Carrascoza agora está com o seu mais recente trabalho, a “Trilogia do Adeus”

“Obviamente, é uma alegria saber que o meu trabalho vem ganhando reconhecimento da crítica por meio de premiações, e, sobretudo, do público, que é de fato o prêmio mais precioso para mim.”, João Carrascoza.

E hoje eu recebo aqui para o nosso Bate-Papo, o vencedor de três Prêmios Jabuti (a mais importante premiação da Literatura brasileira). Uma pessoa humilde, que traz em seus escritos sempre um pouco de sua história da infância, grande parte vivida na cidade de Cravinhos (SP). Quem conversa comigo é o meu amigo, professor universitário e escritor, João Anzanello Carrascoza, 55 anos.

Ele estreou na literatura no gênero infantojuvenil, em 1991 quando publicou As flores do lado de baixo. Mas para o cenário nacional surgiu com o livro Hotel Solidão (1994). Publicou vários livros de contos, como Duas tardes (2002), Espinhos e alfinetes (2010), Amores mínimos (2011), O volume do silêncio (2006 – vencedor do Prêmio Jabuti) e Aquela água toda (2012 – vencedor do Prêmio Jabuti).

Em seu primeiro romance, Aos 7 e aos 40 (2013), Carrascoza escreveu que “o presente é feito de todas as ausências”. Em Caderno de um ausente (2014 – vencedor do Prêmio Jabuti), essa ideia se materializa de forma contundente, alçada por um lirismo poucas vezes visto na literatura brasileira.

E o escritor, que quando criança andava descalço pelas ruas de Cravinhos, ainda foi um dos escolhidos para representar o Brasil, no Salão do Livro de Paris, em 2015. E também viu o seu livro “Aos 7 e aos 40” ser incluído como leitura obrigatória nos vestibulares do País.

Só tenho que agradecer por João Carrascoza aceitar o convite da Intertv Web e participar desse Bate-Papo, no qual ele também já falará do seu mais novo trabalho “Trilogia do adeus”.

Prazer poder te entrevistar meu grande amigo João Carrascoza.

Eu quem agradeço o convite e parabenizo vocês por esse novo projeto, que tem tudo para dar muito certo.

Você é um escritor vencedor de três Prêmios Jabutis, e tem seus livros recomendados em cursos preparatórios para vestibular. Essa é uma sensação de conquista?

São três Jabutis: o primeiro com a antologia de contos “O volume do silêncio”, o segundo com o livro de contos “Aquela água toda” e o terceiro com o romance “Caderno de um ausente”. Alguns de meus livros, como o romance “Aos 7 e aos 40” foram incluídos como leitura obrigatória em vestibulares no país. Obviamente, é uma alegria saber que o meu trabalho vem ganhando reconhecimento da crítica por meio de premiações, e, sobretudo, do público, que é de fato o prêmio mais precioso para mim.

João, você nunca escondeu a sua raiz em Cravinhos. Essa é uma forma de homenagear a cidade que você nasceu e cresceu?

Um escritor leva para a sua obra, em menor ou maior grau, as suas nascentes sensitivas, o universo que povoou o seu imaginário em formação. Mesmo que deseje ocultar a terra de onde vem, porque há quem o prefira, não poderá fazê-lo inteiramente, haverá sempre muito (ou pouco) do que fomos naquele que somos. No meu caso, sinto gratidão pela minha cidade, ao menos a cidade que existia enquanto eu aí vivi, de forma que desce naturalmente para as minhas mãos a Cravinhos que ontem me cultivou e que hoje vou lavourando em meus livros.

Você hoje é um dos mais reconhecidos escritores brasileiros. Isso provoca alguma alteração em seus textos?

Apenas (o que já é o bastante) um grau maior de consciência de minha responsabilidade como um autor do meu tempo.

Quando começou a escrever o seu mais novo livro “Trilogia do adeus”?

A “Trilogia do adeus” nasceu quando lancei o romance “Caderno de um ausente”, em 2014, no qual o narrador, um homem de cinquenta e poucos anos, escreve um caderno para a filha recém-nascida. Depois de publicar este livro, senti que a voz dessa filha, Beatriz, impunha-se em minha imaginação, reivindicando uma resposta ao legado que o pai lhe deixara. Então, escrevi o romance “Menina escrevendo com pai”, supondo que seriam dois romances em diálogo, ora a voz do pai, ora a voz da filha. Mas ao terminar este segundo livro, notei que o filho mais velho desse homem, irmão de Beatriz, havia ganhado relevo nessa conjunção familiar, e senti que deveria dar também espaço a ele, tornando-o narrador do terceiro livro “A pele da terra”.

Podemos dizer que esse livro é uma autoficção?

Não estritamente, porque não é de fato a minha história. Mas de forma indireta, transfigurada, como acontece com todo escritor, a trilogia traz experiências que vivi como a peregrinação com meu filho Lucas a Santiago de Compostela, tema do terceiro volume, entre outros episódios.

Em seus últimos livros sempre tem relembrado o passado, e até mesmo criado personagens que podem ter sido seus amigos “reais”. Você não tem medo de ficar “rotulado” como um escritor saudosista? 

Não. Um escritor precisa correr riscos, aliás qualquer pessoa – vida sem riscos é anódina e covarde. Ter o passado como matéria-prima, recuperado ou corrompido pela memória, é força-motriz de quase toda literatura universal.

Quem são seus grandes influenciados em seus livros? 

Cito dois autores, evitando a monotonia das listas: Carlos Drummond de Andrade, um poeta do cotidiano que, aliás, sempre cantou a sua cidade, Itabira; e Raduan Nassar, com quem aprendi que pode haver lirismo potente na prosa.

Atualmente você é professor na área de comunicação. E você não acha que os estudantes leem pouco? 

Sempre houve e sempre haverá quem leia muito e quem leia pouco – livros, pessoas, mundos.

Como a tecnologia pode ajudar a Literatura a ser disseminada e absorvida pelo público? 

A literatura pode se beneficiar com o poder rizomático de espalhamento que a tecnologia da comunicação possui hoje.

E o lançamento dessa Trilogia aqui em Cravinhos e região, já tem data para acontecer? 

Lançamos a trilogia oficialmente em São Paulo, na Livraria da Vila Madalena, no dia 7 de junho. É provável que façamos uma noite de autógrafo em Cravinhos e em Ribeirão Preto nesse segundo semestre.

Quem quiser te encontrar nas redes sociais como faz? Deixa os endereços aí.

Basta acessar a minha página no Facebook: João Anzanello Carrascoza. Muitos amigos cravinhenses me seguem e conversam comigo por lá.

Suas considerações finais.

Agradeço muito pelas perguntas: se a trilogia tem como mote a despedida, o fim dos relacionamentos, uma entrevista, como essa, enseja a oportunidade de se iniciar novos vínculos.

Kennedy Oliveira

É formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelas Faculdades COC (atualmente Estácio). É pós-graduado em Comunicação: linguagens midiáticas, pelo Centro Universitário Barão de Mauá.

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