‘O mundo precisa de bons educadores’

Flávia da Silva Ramos é professora aposentada da rede estadual de ensino, tem vários projetos sociais com amigos para crianças pequenas, e pretende atuar em ONGs para adolescentes.

Hoje (15/10) apresentamos a 42ª história da nossa série de reportagens “Personagens de Cravinhos”. O projeto consiste em mostrar, um pouco das pessoas que levam o nome da cidade por todos os cantos do mundo, bem como se destacam no próprio município, com seus empreendimentos, talento, simplicidade e carisma.

E dessa vez terá um tema específico, já que nessa sexta-feira (15/10) celebramos o Dia dos Professores, escolhemos uma educadora que tem se destacado e tem muita história para contar aos nossos seguidores, e por isso relatamos a história da professora Flávia da Silva Ramos, 52 anos.

Ela está há 31 anos na rede pública estadual de ensino e três anos na rede particular. Fez o antigo Magistério e foi chamada para estagiar na instituição que estudava, como auxiliar de Educação Física.

“Logo que me formei, passei no concurso público estadual de educação PEB I, daí descobri que podia transformar o mundo, o mundo a minha volta e acreditava que se tivessem várias de mim, o mundo seria transformado através de células”, conta Flávia Ramos.

“Projeto de vida do aluno” levá-los a conhecer as universidades por perto, entre elas: UFSCAR, USP e particulares
Foto: Arquivo Pessoal

Ela se formou em Geografia e novamente passou em um concurso público estadual da educação para PEB II, assim pôde trabalhar na formação dos alunos desde o Ensino Fundamental I até o Ensino Médio.

“O que me proporcionou a realização de um projeto ambicioso. Levar maior número de alunos da comunidade Bela Vista e arredores para as universidades e faculdades. Começava assim minha transformação social e econômica na comunidade”, diz a professora Flávia.

Atualmente ela vê seus alunos formados em diversos cursos, alguns sendo empreendedores e também transformando a sociedade.

“Olho os meus alunos, a maioria formada em cursos técnicos, universidades, faculdades, empreendedores e alguns até atuando fora do Brasil. Passei de professora que ensinava o aluninho a tomar banho, a professora que levava o mesmo aluno para o vestibular literalmente.”, revela, sorridente, Flávia Ramos.

Nesse percurso, foram muitas lutas, e a professora Flávia Ramos nos conta um pouco dessa trajetória. Acompanhe!

Projetos de Leitura
Foto: Arquivo Pessoal

InterTV Web – Quando decidiu que seria professora?

Flávia da Silva Ramos – Ser professor sempre esteve naturalmente em minha existência. Ia sempre a tarde numa escolinha perto de casa para brincar com as crianças, tinha uns 12 anos, era muito satisfatório. E sempre tive essa vontade de estar no ambiente escolar.

 

InterTV Web – Nós sabemos que a profissão de professor é pouco valorizada no Brasil. Como você acha que esse cenário poderia ser modificado?

Flávia Ramos – A valorização da profissão educador não pode ser romantizado. Ninguém come ou paga suas contas com ideologias: “amor a profissão “. Acredito que através da pandemia do Covid-19, a sociedade entendeu a importância da profissão educador. Porém, não acredito que ocorra valorização por parte das redes públicas de educação. Não é interessante ter bons profissionais nas redes públicas, ter bons educadores. O que significaria povo inteligente e, consequentemente, voto inteligente. O que não é interessante aos governantes e outros.

 

InterTV Web – Qual foi a maior alegria e a maior decepção que você já teve na carreira?

Flávia Ramos – Minha maior alegria é ver minha comunidade, no caso Francisco Gomes, ter destaque por vários anos como uma escola de qualidade. E aí tenho que atribuir a todos os educadores, gestores que estiveram atuando na Escola Francisco Gomes nos últimos 30 anos.

A decepção é ter também colegas de trabalho que não tinham aptidão para ser educadores, e a questão salarial que é decepcionante.

 

InterTV Web – Atualmente você aconselharia um aluno ou uma filha a escolherem a profissão de professor?

Flávia Ramos – Aconselho quem tem aptidão e crer que ser educador é ser agente social transformador. Afinal, o mundo precisa de bons educadores.

InterTV Web – Qual a sua avaliação da Educação no Brasil?

Flávia Ramos – Atualmente, o que ainda segura o país numa mínima linha de lucidez é a Educação. A pandemia, como disse, expôs a fragilidade educacional, fez luz a discrepâncias entre escolas públicas e particulares e chegou ao fundo do poço. Há de ser feito algo pela educação no Brasil. A urgência das escolas integrais com educação integral.

 

InterTV Web – Você se lembra quem foi a sua primeira professora? Quanto ela te influenciou em sua vida?

Flávia Ramos – Lembro de todas as minhas professoras. A minha primeira foi a Dona Marli Meneguelli, e nem precisa dizer mais nada. Ela foi nossa secretária de educação por vários anos. Mulher fina, capacitada, ponderada, acreditava na transformação social pela educação. E várias outras professoras que me influenciaram.

 

InterTV Web – Hoje você está passando por um tratamento de Saúde, quanto o apoio de seus alunos tem sido importante para que tudo dê certo?

Flávia Ramos – Quanto meus alunos atuais e os antigos foram solidários, recebi milhares de mensagens, recados por parentes, telefonemas de pais. O carinho que tenho recebido diariamente me impulsiona muito.

InterTV Web – Você sempre foi uma professora muito querida e próxima aos seus alunos. Isso te ajudou em sua carreira?

Flávia Ramos – O fato de amar o que faço faz com que as crianças e adolescentes vejam verdade em mim. Acreditam nas minhas ideias e dão um salto de fé comigo. Aprendem que eles são donos das vidas deles. E projetam suas vidas. O que me aproxima deles e da família. Quando o aluno faz seu projeto de vida e acredita faz o educador continuar a lutar.

 

InterTV Web – O que é ser professor?

Flávia Ramos – Gosto mais da expressão Educador. Professor é aquele que ministra conteúdo. Educador é o sujeito responsável por coordenar, na relação com o outro, os processos de ensino e aprendizagem. Isso significa que o educador é um profissional que investe no processo de desenvolvimento do educando, sempre ciente do que ele, efetivamente, necessita aprender.

Apresentação na Feira do Livro de Cravinhos e Feira do Livro em Ribeirão.
Foto: Arquivo Pessoal

InterTV Web – Suas considerações finais.

Flávia Ramos – Após 31 anos estou aposentada da rede estadual de educação, tenho vários projetos sociais com amigos para crianças pequenas, e pretendo atuar em ONGs para adolescentes. Enquanto ainda estou em tratamento, sigo atendendo meus queridos alunos quando eles sentem necessidade de conversar com alguém. Agradeço pela oportunidade da entrevista.

Kennedy Oliveira

É formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelas Faculdades COC (atualmente Estácio). É pós-graduado em Comunicação: linguagens midiáticas, pelo Centro Universitário Barão de Mauá.

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