Tempo de amor e esperança
E nessa sexta-feira temos a quinta história da Coluna “Preces de Esperança”. Vale a pena conferir!
Era 5 de agosto de 2021.
Seu nome era Messias, um ser humano escolhido.
Naquele dia, apesar da gravidade e irreversibilidade de seu quadro clínico, ele estava leve. Ele era leve. Consciente, orientado, simpático, falante.
Padre Josirlei, depois de um dia de tantas visitas, já cansado naquela tarde, por um momento pensou até em adiar a visita àquele hospital, onde estava internado aquele senhor. Entretanto, teve a feliz decisão de, mesmo esgotado, visitar o paciente, sem imaginar o que encontraria no quarto 240.
A recepção foi cheia de alegria, uma emoção que expulsou naturalmente o cansaço…
No leito, mesmo ciente de que não tinha mais muito tempo de vida, a alegria de Seu Messias era contagiante. Muito comunicativo, falou de seu passeio matinal pelo jardim do hospital e do prazer que sentia ao ver e ouvir os pássaros. Foi, então, que imitou o canto do sabiá, do bem-te-vi, do pássaro preto, e falou, com amor, do quanto a música da natureza o deixava feliz.
O padre ainda não tinha se apresentado, e a conversa já era regada pelo riso e por uma delicada intimidade, inexplicável para um primeiro encontro.

Ao se apresentar, disse, então, o Capelão ao paciente:
– Seu Messias, o senhor sabe quem eu sou? Eu não sou médico…
E antes mesmo de dizer que também não era o psicólogo, o paciente o interrompeu:
– O Senhor é o seu vigário!
– Como é que o senhor sabe que sou padre?
– Eu já estava esperando pelo senhor! – expressa, feliz, o paciente.
Justificou-se ali toda aquela “festa” da recepção.
E, ao continuarem aquele leve e descontraído bate-papo, Seu Messias resgatou na memória o passeio da manhã:
– Hoje, quando fui ao jardim, observei folhas caindo das árvores. Isso me deu uma sensação de bem-estar muito grande. Aquilo me fez muito bem!
– Por que, Seu Messias? – indagou o padre.
– Porque quando uma folha cai, não é porque a árvore tomba ou porque é o fim. A folha seca que cai simboliza vida nova que nasce.
A percepção daquele senhor acerca dessa realidade de vida deixou Padre Josirlei muito surpreso. É o poder recomeçar toda vez que se cai…
Em seu estado terminal, ele poderia falar de morte, no entanto, escolheu falar de vida.
– Sabe, vigário, eu sei que uma hora, todos nós vamos cair, como aquelas folhas. Mas eu estou bem e feliz.
Estar bem para aquele homem imprimia serenidade diante da iminente passagem para vida eterna.
– E o que o senhor espera do padre? Por que o senhor quis que o padre estivesse aqui?
– Porque eu gostaria de 10% ainda… – respondeu o paciente.
Os 10% a que Seu Messias se referia não era de um tempo a mais de vida. Pelos dias de vida que ainda lhe restava, ele queria ser uma pessoa melhor, uma pessoa que inspirasse o bem e que mostrasse para as outras que o que importa é o amor, o coração.
A família estava ali reunida, rindo, sorrindo e participando do momento de partilha, que foi seguido pela oração.
E, antes de terminar a prosa, Seu Messias pediu sua imagem de Nossa Senhora. Colocaram-na na palma de sua mão. Era uma imagem bem pequenininha.
– Preciso te contar uma história, seu vigário!
Atento, padre Josirlei pôs-se a ouvir.
– Está vendo essa Nossa Senhora aqui? – mostrando a pequenina imagem.
E continuou:
– Um cara me enganou e me levou 5 mil reais, deixando comigo essa imagem. Pobre homem! Ele levou o dinheiro e me deixou o valor… Me deixou Nossa Senhora, que tanto amo! – respirou aliviado.
Seu Messias, um homem escolhido, não almejava por mais vida, ele aspirava à paz… Uma semana depois da visita do Capelão Hospitalar, ele foi embora, repousar ao lado do Pai. Ele pôde trazer ensinamento de vida naquela tarde em que escolheu não falar da morte. Padre Jô foi, para ele, presença esperada, não ausência sentida… Que felicidade!
Esse homem não foi somente 10% melhor… Ainda em vida, despretensiosamente, ensinou que a alegria acolhe e cura, que a natureza merece ser observada e sentida, que a vida é feita de recomeços e que amar Nossa Senhora Aparecida não tem preço.
Deus escolheu esse Messias para mostrar que todo tempo que aqui nos resta pode ser pleno de amor e esperança.