Vai ter milho na cerveja, sim. E se reclamar, a gente ainda coloca arroz!
Os principais ingredientes básicos da cerveja são, em ordem: água, malte, lúpulo e levedura. Só? Jamais!
Contrariando a lei da pureza alemã, ainda acrescentamos na receita:, frutas, cereais não maltados (milho, arroz, centeio, aveia, entre outros) e o que mais a criatividade do cervejeiro pedir.
Exatamente pela cerveja ser uma bebida tão democrática e que abre possibilidades de ingredientes para tantas possibilidades de receitas, que eu sempre digo o quanto acho incabível o termo: “cerveja puro malte”. (Até porque se realmente fosse assim, estaria mais para uma barrinha de cereal crocante do que para uma bebida, em que, na real, tem uns 80% de água). Eu traduzo o tal do “puro malte” para “puro marketing”, e daqueles bem malfeitos. – Que comecem as tretas -, Além de ser um insulto aos belgas, que colocam o que eles querem e fazem as melhores cervejas do mundo! (Não canso de afirmar que os Belgas são fodas!).
Mas, afinal, o que é malte?
Malte são grãos de cevada, ou de trigo ou qualquer cereal que sofreu o processo de malteação (germinação sob condições controladas) e são ricas fontes de proteínas que vão liberar o CO² pelas leveduras. Existem vários tipos e torrefações diferentes e isso influencia diretamente no corpo, cor, aroma e sabor da cerveja. Cada país possui uma legislação diferente sobre porcentagem de cereais maltados e não maltados que a receita pode ter.
Usar cereais não maltados, pode suavizar a bebida. É o caso das Flanders, por exemplo. Nada de errado com isso. O problema é que a quantidade que se usa, entre outras coisas, que faz com que a qualidade do produto caia. O trigo é um cereal que pode ser usado maltado ou não. Tudo depende do estilo que será produzido.
O uso do milho e do arroz começou a crescer após a lei seca dos EUA, em que era MUITO difícil (para não dizer impossível/ilegal) comprar cevada para produção de cerveja. Foi daí que nasceu as American Stand Light Lager (BJCP)s, que não é nada mais, nada menos que as (cervejas que consumimos a vida toda, tendo e temos como referência das primeiras cervejas as, cervejas de garrafa, de boteco, de churrasco) etc., que são as cervejas comerciais chamadas Pilsen e que agora as marcas que querem se intitular como Premiuns, amam o termo “Puro Malte”. Vê como a própria indústria queima um produto para destacar outro?
Um exemplo clássico que gosto de falar quando escuto uma pessoa dizendo que jamais beberá uma cerveja que tem milho é citar a cerveja Deus. Uma cerveja maravilhosa e bem cara (o preço da garrafa custa no Brasil, em média, R$ 300,00 no Brasil), que é uma Brut de Flandres, que usa a técnica uma champenoise, cerveja que sofre a refermentação na própria garrafa. É de origem belga, super delicada, difícil de produzir e que leva cerais não maltados em sua composição. A Deus é da cervejaria Bosteels e também se caracteriza no estilo Belgian Gonden Strong Ale. Cito essa cerveja por considerar uma comparação que causa impacto, levando em conta preço de produto e apreço, mas teriam tantas outras opções para falar…
Abra uma cerveja para apreciá-la, se procurar saber sobre como ela é feita, melhor ainda. Mas entrar no modismo, em pleno 2018, com fácil acesso à informação, já não cabe mais, né, gente! A ideia desse artigo é desmistificar algumas questões de conversas de bar que normalmente denigrem alguns produtos. Trocar informação é sempre legal. Menos fake news, e mais cerveja boa no copo!
Um brinde à toda cerveja bem feita e gostosa.