Explante de silicone

Ao longo dos anos, o implante mamário evoluiu até sua geração atual, trazendo muita qualidade nos resultados estéticos ou reconstrutores e, sobretudo, segurança aos seus usuários. Contudo, eventualmente surpresas acontecem e merecem a maior atenção.

A cirurgia para aumento das mamas, a mastoplastia aditiva, popularizou-se e se difundiu rapidamente em busca de um padrão de beleza. O silicone mostrou-se, desde o início, um material inerte, conseguindo evitar a rejeição pelo organismo, além de ter sua textura mais semelhante a uma mama normal.

Ao longo dos anos, o implante mamário evoluiu até sua geração atual, trazendo muita qualidade nos resultados estéticos ou reconstrutores e, sobretudo, segurança aos seus usuários. Contudo, eventualmente surpresas acontecem e merecem a maior atenção. Fazendo uma analogia grosseira, um implante mamário pode ser comparado a um carro 0km. Todos conhecemos alguém que comprou um carro novo, que supostamente não deveria trazer defeitos, mas acaba indo logo para uma oficina, decepcionando seu proprietário. Pode ser raro, mas acontece! O mesmo ocorre com os implantes mamários que, até se apresentarem garantia vitalícia (dependendo da marca e modelo), podem trazer surpresas. Alguns trabalhos recentes demonstram um certo grau de imunogenicidade do silicone, ou seja, um material que pode sim estimular reações do organismo.

Foto: Divulgação

Algumas situações especiais merecem destaque e podem sugerir o explante das próteses de silicone:

– BIA-ALCL

linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante mamário (BIA-ALCL, sigla em inglês) é protagonista atual de dúvidas sobre a qualidade de alguns implantes sobre tudo de suas texturas (superfície da prótese). Segundo o FDA, o risco para o desenvolvimento do BIA-ALCL está entre 1 em 30.000 pacientes com implantes do tipo texturizado. O seu tratamento, principalmente no início, é diretamente relacionado à retirada do implante.

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– Síndrome ASIA

síndrome ASIA, ou Síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes, significa uma doença reumatológica desencadeada por uma série de fatores externos, entre eles o silicone. Envolve sintomas sugestivos de uma doença reumática que aparecem após a implantação do implante. Esta síndrome pode se manifestar por: 

Critérios maiores:

– Dor muscular, miosite ou fraqueza muscular;

– Dor articular e/ou artrite;

– Fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono;

– Manifestações neurológicas (Perda de forca, Falta de equilíbrio, espasmos musculares)

– Alteração cognitiva, perda de memória

– Febre, boca seca;

A remoção do agente iniciador induz melhora. Biópsia típica dos órgãos envolvidos.

 Critérios menores:

– Aparecimento de autoanticorpos dirigidos contra o adjuvante suspeito.

Outras manifestações clínicas (ex.: síndrome do cólon irritável).

HLA específicos (ex.: HLA DRB1, HLA DQB1).

Surgimento de uma doença autoimune (ex.: esclerose múltipla, esclerose sistêmica).

– Reação de Hipersensibilidade ao Silicone

Ainda existe descrição rara associada aos implantes mamários denominada Reação de Hipersensibilidade ao Silicone, gerando uma reação alérgica variada, mas normalmente agredindo a pele e melhorando apenas com a retirada do implante e associação com corticóides.

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– Contratura Capsular

As contraturas capsulares podem ocorrer por diversas razões (hematomas, infecções, radioterapia, entre outras), sendo, talvez, as principais causas de cirurgia de explante ou de substituição de implantes. A contratura capsular é a complicação mais comum na mamoplastia de aumento, com incidência variando entre 0,5 e 30%. Refere-se ao endurecimento da cápsula formada naturalmente ao redor dos implantes. Em situações mais graves, pode estar associada a dores, sugerindo o explante com capsulectomia (retirada da cápsula endurecida).

O mastologista deve ser consultado antes da colocação de próteses mamárias, bem como manter um acompanhamento especializado periodicamente após a cirurgia.

Gustavo Zucca

Mastologista, pós-doutorado pela Unesp, especialista em oncoplastia e cirurgia reconstrutora da mama pelo Instituto Europeu de Oncologia – Milão.

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