Um vírus que fechou Santuários, mas não venceu a fé
O peregrino não viaja simplesmente, ele busca nos lugares santos uma experiência de fé, algo místico, ouvir a Deus, ter uma intensa vivência de aprofundamento com Ele.
*Sandro Arquejada
Toda peregrinação é diferente de um passeio, é muito mais do que realizar um simples turismo, deve ter um sentido espiritual que aproxime a pessoa do sagrado, como a caminhada do povo de Deus, cruzando o deserto. Nos textos da Bíblia, vemos que Deus, muitas vezes, recorda o seu povo que, libertado da escravidão, teve que peregrinar pelo deserto antes de chegar à terra prometida. E não somente faz memória, muitos dos ritos e datas importantes para os judeus e para os cristãos, como a Páscoa, por exemplo, são fundamentados em acontecimentos que estão ligados àquela travessia de 40 anos.
A peregrinação representa a caminhada do povo ou do indivíduo, nesta vida, rumo à verdadeira terra prometida, a pátria celeste. O peregrino não viaja simplesmente, ele busca nos lugares santos uma experiência de fé, algo místico, ouvir a Deus, ter uma intensa vivência de aprofundamento com Ele, ou pedir a intercessão de algum santo, alcançar uma graça, ou ainda agradecer um favor recebido.
Assim é a motivação de peregrinos no mundo todo, e também com aqueles que vêm ao Santuário Nacional, em Aparecida (SP), ao Santuário de Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP) e ao Santuário do Pai das Misericórdias, na Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Todos esses espaços sagrados estão no circuito religioso do Vale do Paraíba Paulista.
Essa experiência do “deserto” é marcante para o povo de Deus. Foi lá que o povo viu a manifestação do Senhor quando falava a Moisés; era conduzido – uma nuvem os guiava durante o dia e uma coluna de fogo à noite –; foi alimentado pelo maná, pão do céu, prefiguração da Eucaristia; recebeu a instrução por meio das tábuas da lei, que Jesus daria pleno sentido com o Sermão da Montanha; foi curado de picadas de serpentes, olhando para a serpente de bronze, que prefigura o Cristo erguido na cruz, Ele que tomou sobre si nossas maldições.
No atual contexto, de pandemia e de tantas incertezas, nós percebemos quanto o povo brasileiro tem se confiado à intercessão da Mãe Aparecida, dos Santos, além de buscar conteúdos cristãos que trazem esperança e fé. Tal realidade aponta que Deus não desampara quem nele confia, e como com aquele povo do Êxodo, também o faz hoje conosco. Percebemos a fé e a gratidão das pessoas ao Senhor, e como estão ansiosas para, a partir de uma peregrinação, voltarem a se encontrar com o sagrado.
Se os meios de comunicação e as novas tecnologias, de alguma forma, não deixam o povo sem a presença de Deus em suas casas, são os corações que agora estão ansiosos por irem em direção ao Senhor, voltarem à experiência tão forte e vibrante de buscá-Lo numa peregrinação.
Esse ano será diferente, o povo tem uma barreira a mais para vencer. No entanto, creio que mesmo com restrições, isso se fará de forma gradual, tanto na recepção do povo nos locais de peregrinação, quanto com a iniciativa dos peregrinos. É provável que os peregrinos privilegiem neste momento os locais mais próximos de suas moradias. E para evitar aglomerações, muitos devem ir com veículo próprio ou, quem nunca se aventurou, agora poderá se animar a ir caminhando, de bicicleta ou a cavalo, como muitos fazem.
Assim como no deserto, nem serpentes, onde nem a fome e a sede, impediram o povo de peregrinar até o seu destino, o povo brasileiro encontrará os meios mais adequados e não diminuirá sua fé.
*É missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP), atualmente trabalha no Setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor dos livros “Maria, humana como nós” e “As Cinco Fases do Namoro”, pela Editora Canção Nova.