Alimentação na fibrose cística

A fibrose cística é uma doença hereditária autossômica recessiva caracterizada pela transmissão de cópias anormais do gene regulador transmembrana da fibrose cística (RTFC), que se localiza no cromossomo 7. Essa doença causa uma formação de muco espesso devido a desidratação da superfície celular pela disfunção no transporte de cloro e consequentemente de sódio.

A má-absorção de nutrientes está presente nessa doença devido a insuficiente secreção pancreática que afeta a capacidade de absorção dos nutrientes no lumen intestinal. Em pacientes firbrocísticos, o pâncreas não produz enzimas suficientes para completa digestão dos alimentos ingeridos, as primeiras manifestações são a má digestão e má-absorção de gorduras. Os ductos pancreáticos ficam obstruídos por muco espesso, impedindo o suco pancreático de atingir o duodeno.

A diminuição ou ausência de enzimas pancreáticas conduz à deficiência na absorção de lipídios, proteínas e, em menor escala, de carboidratos, causando esteatorréia, azotorréia e perda de vitaminas lipossolúveis. A baixa concentração de bicarbonato no suco pancreático faz com que o PH do duodeno seja ácido, e isso contribui para a má-absorção (Castro & Dani, 1993).

Os problemas nutricionais e consequências da fibrose cística são multifatoriais e relacionadas com a progressão da doença. Fatores interdependentes, como deterioração da função pulmonar, anorexia, vômitos, insuficiência pancreática e complicações biliares e intestinais, são responsáveis pelo aumento das necessidades energéticas, ingestão diminuída de alimentos e aumento das perdas atribuídas à inadequação nutricional com consequente perda da massa magra e depressão da função imunológica.

A intervenção nutricional na fibrose cística é de grande importância. Primeiramente, está associada com o melhor crescimento e melhora ou estabilização da função pulmonar. Assim, uma dieta rica em energia e gordura está associada a um melhor crescimento e maior sobrevida.

A dieta deve ser hipercalórica, hiperprotéica e com teor normal de gordura, considerando as necessidades da faixa etária para um crescimento e desenvolvimento normais, respeitando custos, hábitos alimentares e intolerância pessoal.

Os pacientes com fibrose cística têm necessidades calóricas elevadas, pelo próprio metabolismo, trabalho respiratório, infecção bacteriana e má absorção. Em geral, deve-se ofertar 20% a 50% de calorias além das necessidades para a faixa etária, observando-se o ganho ponderal e crescimento do paciente. Isto é mais importante que o cálculo apurado da dieta, é recomendável o dobro do normal de ingestão protéica e 35% da energia ingerida deve ser derivada de gorduras, pois a mal nutrição resulta no agravamento da doença pulmonar, por isso, há indicações de terapêutica de suporte mais agressiva, como sondas gástricas ou enterais e mesmo gastrotomia.

Renata Dessordi

Renata Dessordi é nutricionista formada pela Universidade de Ribeirão Preto, especialista em Nutrição Clínica e Esportiva. Mestra em Alimentos e Nutrição pela Unesp. Doutoranda em Alimentos e Nutrição pela USP/Unesp. Auriculoterapeuta Francesa.

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