O SER diante do desastre

O NO DIVÃ desta semana não poderia deixar de propor uma reflexão a respeito da tragédia ocorrida e tão comentada durante os últimos dias em nosso país. O desastre de Brumadinho.

Buscando compreender a vivência e as sensações humanas diante de algo tão forte, sofrido e angustiante, hoje discutiremos alguns tipos de mobilizações geradas no ser devido a um acontecimento desastroso que coloca em risco a vida de uma ou mais pessoas.

Sexta feira (25/01/2019) a barragem da mineradora VALE, localizada em Brumadinho (MG), se rompeu deixando casas, empresas e uma série de pessoas embaixo da lama. Até o momento, a tragédia resultou em cerca de 157 mortes, quase 200 pessoas desaparecidas e dezenas de famílias desabrigadas. Muitos animais foram mortos devido ao lamaçal, e atualmente os sobreviventes estão sendo ameaçado por uma grande contaminação que chegou as águas do Rio Paraopeba. 

Desde o ocorrido, diversos meios de comunicação, estão noticiando, de forma impactante, a rotina árdua de equipes de resgate que trabalham incansavelmente na procura de sobreviventes da tragédia e de corpos já sem vida.

Uma discussão que aponta os possíveis culpados deste desastre ambiental acontece, calorosamente.  E enquanto isso, as vitimas, lutam pela busca de esperança, choram devido ao luto e vivem o sofrimento do “não poder prever” o que o futuro reserva para tais. 

Aqui, podemos observar diversos tipos de pessoas vivendo um episódio trágico e até mesmo traumático, de maneiras diferentes. Existem as pessoas que foram diretamente atingidas e afogadas pela lama de Brumadinho, ás pessoas que se sujam hoje, em buscas ininterruptas naquele lugar e existem os telespectadores, nós, que assistimos, de longe, tudo que vem acontecendo.

De forma geral, estamos falando de um misto de sentimentos que consome e mobiliza o ser diante de algo tão grande e avassalador. Estamos falando sobre uma situação que escancara as grandes diferenças existentes entre as pessoas e a forma como elas demonstram o que sentem diante de uma situação. 

Desde a tragédia, noticias lindas de se ler, que descrevem gestos altruístas disputam visibilidade, em nossas timelines, contra notícias que discorrem uma grande falta de compreensão e empatia, diante deste desastre.

– Militares Israelenses chegam ao Brasil para ajudar nas buscas por sobreviventes em Brumadinho;

– Alguns usuários, em redes sociais, caçoam sobre desastre em Brumadinho;

– Pessoas se reúnem para arrecadar mantimentos e água que serão enviadas para Brumadinho a fim de garantir o básico para a sobrevivência das vitimas do rompimento da barragem;

– Hoje ouvi uma pessoa dizer que não pensa em ajudar as vitimas da tragédia em Brumadinho, ela afirmou que não tem nada haver com aquilo;

– Pessoas que passavam pelo local do acidente se dispuseram a ajudar na procura por vitimas em Brumadinho;

Aqui fora é um misto de falta de compaixão e aspectos que caracterizavam uma imensurável empatia. E lá dentro é luto, é luta, é dor, é fôlego é senso de justiça. 

O sentir torna-se algo muito relativo quando o assunto são pessoas. A única certeza existente é que o sentir, seja ele como for, existe, é inerente ao ser e faz com que ele tenha comportamentos, positivos ou negativos, em nosso cotidiano.

Em situações de tragédia, principalmente as que têm proporções avassaladoras, o sentir se dá, também, de maneira avassaladora. As vitimas de tal situação são as principais pessoas a serem observadas e cuidadas neste contexto, porém todos os envolvidos, direta ou indiretamente a situação também podem necessitar de cuidados especiais.

Vem crescendo, significativamente, o número de desastres e situações criticas ao redor do mundo. Diante disso a psicologia construiu uma abordagem que trabalha, de forma desafiadora, em cima desta demanda, a fim de minimizar os problemas que exercem maior pressão sobre os envolvidos, com estratégias adaptativas, focadas e direcionadas visando promover a resolução do maior número possível de problemas em um período curto de tempo. Portanto, a psicologia e o profissional psicólogo, dentro de equipes multidisciplinares, são peças indispensáveis em situações como essas, que colocam em risco a integridade física e mental de vitimas de tragédias imprevisíveis. É importante que estes profissionais se façam presente durante e após o evento desastroso, acolhendo, direcionando e construindo junto a tais pessoas um planejamento futuro.

Ainda é necessário um maior preparo e mais pesquisas para continuar a desenvolver e evoluir as técnicas utilizadas no manuseio de pessoas que viveram ou vivenciam situações trágicas, perigosas e emergenciais. A atuação dentro deste contexto é importante e indispensável, pois tudo que proporciona o desequilíbrio psíquico precisa ser visto de perto, com cuidado e por tempo indeterminado.

Ainda sobre o sentir e as diversas formas de expressões comportamentais descritas durante esse texto, podemos pensar uma coisa, o mundo precisa de ajuda. Afinal, tudo que é extremo é prejudicial (seja o extremo de BOM ou o de MAL). 

Deixe uma resposta