Papoterapia: escuta e partilha

E hoje temos a décima nona história da Coluna “Preces de Esperança”. Vale a pena conferir!

Final de janeiro de 2022. Padre Josirlei estava no Hospital Ribeirania para visitar alguns pacientes, a pedido do assistente social.

Ao chegar, foi abordado por uma enfermeira:

– Como gostaria que o senhor visitasse um quarto, padre! – pediu a profissional da saúde.

– Claro! – concordou o Capelão.

– E ela continuou: trata-se de uma paciente com vínculo familiar bastante reduzido, que passa grande parte dos momentos sozinha…

Atendendo à solicitação, ao chegar no quarto, Padre Josirlei deparou-se com uma mulher de pouco mais de 50 anos, sorridente e muito comunicativa. Técnica de enfermagem aposentada. Seus 7 cachorros eram sua alegria, embora não pudesse estar próxima deles em virtude da hospitalização.

Dona de uma vontade de viver muito grande, Dona Aurora mostrava-se cheia de vigor.

O Capelão estava ali para conhecê-la, não para dar assistência religiosa. Sua disposição se fazia presente para acolher as necessidades da paciente naquele momento, o que não correspondia a medicações ou qualquer outro tipo de cuidado da saúde física.

Dona Aurora e Padre Josirlei conversaram muito.

– O senhor é médico ou enfermeiro? – perguntou a senhora.

– Sou Capelão Hospitalar. – esclareceu o padre.

– Não importa! – respondeu-lhe sorridente. O que mais preciso e tenho certeza de que muitos pacientes precisam é do exercício da papoterapia. Quantas vezes pratiquei a papoterapia em benefício de pacientes que estavam sob meus cuidados…

Foto: Arquivo Pessoal

O Padre ficou intrigado ao ouvir aquela palavra: papoterapia. Nunca tinha escutado, especialmente no ambiente hospitalar.

Foi, então, a palavra que conduziu sua experiência naquela tarde de quinta-feira.

– E do que se trata a papoterapia? – indagou, curioso, o padre.

Disposta, Dona Aurora explicou:

– Qual é a melhor coisa que alguém gostaria de ter, caso estivesse hospitalizado? Certamente alguém que a escutasse, com quem pudesse conversar, além de falar de assuntos diversos que não fossem a doença. Eu, por exemplo, estou hospitalizada, mas eu não sou a doença. Sou uma pessoa com um desejo enorme de falar, de conversar, de ouvir…

O padre ficou inquieto ao ouvir a palavra porque este é justamente o seu papel enquanto Capelão Hospitalar. É este o papel da rede de apoio espiritual, é este o papel daqueles que dão o suporte psíquico e espiritual aos pacientes.

Em seguida, na conversa, ele pôde se apresentar de fato, falar um pouco dos seus objetivos e avaliar quais eram as crenças dela.

Ela era espírita. Ele a comunicou, então, que o hospital providenciaria alguém que pudesse lhe dar o suporte religioso.

Dona Aurora foi a protagonista de um valioso bate-papo. Ela pôde falar sobre ela, rir, sorrir, ouvir, dividir suas vivências e, mais que isso, mostrar ao padre que ele também pratica a papoterapia, que ele também é um papoterapeuta.

Abrir um espaço para que pacientes possam se expressar, partilhar experiências de vida, ser ouvido, acolhido é, sem dúvida, um eficaz remédio, e faz brotar em qualquer paciente um sentimento de pertencimento. É magnífico como as relações humanas nos fazem evoluir…

Capelão Pe. Josirlei e Lucimara Souza

Recortes da realidade que suscitam esperança, fé e amor. Experiências vividas pelo Capelão Pe. Josirlei, traduzidas por Lucimara Souza.

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