Quem se importa?

E a partir dessa semana mais uma colaboradora chega para a nossa equipe, trata-se da jornalista e escritora, Matilde Leone, que começa a escrever a coluna “Crônicas do Cotidiano”.

Na Europa, segundo as últimas notícias, a Covid-19 não está dando trégua. Só a França registra de 40 a 60 mil novos casos por dia. Não é novidade, todos já devem saber, ao menos os mais preocupados com o andar da pandemia que mudou a rotina de todos e nos ameaça constantemente. Como o bom senso anda longe de fazer parte da agenda de alguns governos pelo mundo afora, no Brasil não é diferente. Impulsionados pelo descaso de quem nos governa, muitos brasileiros ainda acreditam em uma gripezinha. Falo isso com a experiência de ter ouvido e assistido a essa negligência que, melhor dizendo, me parece mais uma certa arrogância.

E é triste ver essa falta de compromisso de quem dita as leis e normas no país, a falta de cuidado com a saúde daqueles que pagam com suor uma das maiores cargas de impostos do mundo. Mesmo que fosse a menor taxa… O descaso vai além da saúde: trata-se da vida. Quantos morreram até agora?  Ora, “Às vezes, é melhor perder a vida que a liberdade”. Essa frase infeliz foi dita pelo ministro da guerra antes de uma batalha? Não!! A pérola é do terceiro ou quarto – nem sei mais – ministro da saúde. Parece que já estamos habituados a falas inconcebíveis como essas saídas da boca de inúmeros capachos do governo desde janeiro – ou antes, até – de 2019. Aí, me lembro de Rui Barbosa dizendo “de tanto ver prosperar as nulidades…”, e acabo perdendo o raciocínio inicial.

Foto: Divulgação

Na verdade, minha intenção era comentar um caso triste que tem tudo a ver com a falta de controle por parte das autoridades das portas de entrada no Brasil. Só um exemplo: no final de novembro dois homens franceses chegaram a Ribeirão Preto a trabalho. Acontece que nenhum dos dois foi vacinado contra Covid-19 na França, e logo que chegaram apresentaram os sintomas da doença. Um deles só precisou de medicação e uma quarentena, mas o outro não teve tanta sorte. Foi internado e entubado em um hospital particular até ontem. Agora, a pergunta: eles se contaminaram aqui ou já estavam contaminados dentro de um avião? Quem se importa? As duas hipóteses são preocupantes. Como toda vida importa, desejo – e acho que vocês também – que ele vença batalha e retome a liberdade de viver.

 

PS: A fala do ministro me fez lembrar uma piada idiota que ouvi um dia. Durante um assalto a uma mulher, o ladrão pergunta: “a bolsa ou a vida?”

Ela responde de imediato: “a vida… porque vou precisar da bolsa.”

Matilde Leone

Maria Matilde Leone é jornalista e escritora, formada pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, SP, em 1985. Trabalhou em diversos veículos de imprensa como redatora e editora, tais como jornais, revistas e de televisão como EPTV, afiliada da Rede Globo. Foi docente de jornalismo na UNICOC em Ribeirão Preto e na Unifran, na cidade de Franca. É autora de Sombras da Repressão, o Outono de Maurina Borges, publicado pela Editora Vozes; A Caixinha do Nada, editora Coruja, Theatro Pedro II – 80 anos, editora Vide. Editora e revisora de várias publicações.

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