O pós-parto e puerpério

Para muitos a gravidez e o puerpério* são momentos lindos e mágico, momentos de descobertas, de envolvimento, aprendizado… Porém nem tudo é um mar de rosas, como diz o ditado “Ser mãe é padecer no paraíso”. É um momento único na vida de cada mulher, porém vem acarretado de responsabilidades e de muito empenho físico e emocional, aprendendo como fazer, onde fazer, e como é possível lidar com a maternidade da melhor forma que você considera ideal, e não os outros.

Quando o bebê nasce, no parto em si, a relação simbiótica mãe-bebe é rompida e há a separação do que era imaginada para o que agora é real. Nesse momento a mãe precisa desenvolver um vínculo afetivo, que lhe permitirá identificar-se com a criança, colocando-se no lugar dela e imaginando suas necessidade e cuidados.

Os medos, angustias, stress, alegrias, choros, dias e noites em claro, o toque… Todos estes momentos envolvem a mãe e seu bebê e são comuns até se descobrirem e aprenderem um com o outro, porém pode-se ter, no meio a todas esses sentimentos e emoções, alguns transtornos emocionais do puerpério que podem agravar os sentimentos negativos da relação mãe-bebê, tais como melancolia da maternidade (baby blues), depressão pós parto e psicose puerperal.

A melancolia da maternidade (baby blues), se caracteriza por fragilidade e hiperemotividade, que surge poucos dias após o parto, a etapa de reconhecimento mútuo entre a mãe e o bebê, sendo o tempo necessário para a mãe compreender que o bebé é um ser separado dela, que a gravidez acabou e agora eles são dois, marcando o fim das fantasias de quando ele estava na barriga. Seus sintomas vão de choro a tristeza acompanhados por sentimentos de falta de confiança e incapacidade para cuidar do bebé. É passageiro, e conforme vão superando cada etapa juntos, a sensação de incapacidade vai se esvaindo.

A depressão pós-parto se caracteriza pela presença de um conjunto de sintomas que prejudicam a relação mãe-bebé. Geralmente ocorre durante os três primeiros meses após o parto e atinge cerda de 10 a 20% das mulheres, podendo durar até os 2 anos do bebê. Há um desencadeamento de quadro depressivo com sentimentos de incapacidade de cuidar do filho e dificuldades para lidar com o âmbito sócio familiar. Há sentimento de culpa, transtornos do sono, flutuações de humor com grande tendência a tristeza, choro, irritabilidade, cansaço, abatimento, rejeição do bebê e não há reconhecimento de ser mãe.  Sensação de desleixo e apatia, levam a mãe a não ter vontade de cuidar de si e nem do bebê. Há necessidade de uso de antidepressivos, a mulher sofre com a situação porém não consegue muda-la e a ajuda e apoio da família são primordiais neste momento.

A psicose puerperal é uma síndrome com características de depressão, delírios e pensamentos da mãe sobre ferir o bebé ou a si mesma, e em casos graves há a tentativa de suicídio e homicídio contra a criança. A psicose puerperal incide em 0,1% a 0,2% das mulheres, possui os mesmos sintomas que a depressão pós parto, porém faz com que a mulher desenvolva agressividade, principalmente com o bebê. A mãe pode manter delírios de perseguição, medo excessivo de magoar o bebé e sentimentos de estar a enlouquecer. Há confusão mental, alucinações e mudanças rápidas de humor, passando da euforia para a depressão, a mulher mantém um estado de delírio permanente e os cuidados das criança devem ser realizados por outra pessoa, que possa ficar junto a mãe todo o tempo. A necessidade do diagnóstico precoce é importantíssimo, e quando não realizado, podem ter consequências gravíssimas.

Suas causas são multifatoriais e podem ser resultantes de falta de apoio familiar, gravidez indesejada, falta de maturidade para conseguir compreender as mudanças, luto pelo rompimento da gravidez, histórico de transtorno bipolar do humor, episódio prévio de psicose, entre vários outros motivos, que mesmo presentes ou não, não são determinantes para o aparecimento de quaisquer transtornos.

O tratamento é único, individual e singular. Vária de caso a caso, da intensidade, do apoio, das formas de enfrentamento e capacidade de lidar com o problema. A equipe multiprofissional, obstetra, pediatra, psiquiatra e psicólogo juntos discutem o caso e começam o tratamento mais adequado para aquela pessoa naquele momento.

Não é culpa da mãe, ela não detém controle sobre seus sentimentos ou ações. São pensamentos que tomam o controle e não há como culpa-los de acontecerem. Além do tratamento correto é necessário apoio integral da família, atenção redobrada, amor, carinho, paciência e muito compreensão.

*Puerpério: período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação.

Yasmin Paciulo Capato

Yasmin Paciulo Capato é Psicóloga (CRP: 06 / 136448) clínica e atende as especialidade de Psicoterapia, Orientação Vocacional e Psicodiagnóstico na Clínica Vitalli.

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